2º Encontro de Música e Mídia (2006)

2º Encontro de Música e Mídia: Verbalidades, musicalidades: temas, tramas e trânsitos.

Trabalhismo, música e mídia sob o governo Vargas

Adalberto Paranhos
akparanhos@triang.com.br]

Resumo: Jornalistas, historiadores e cientistas sociais costumeiramente se dão as mãos quando se trata de pôr em destaque os superpoderes ostentados pela ditadura estado-novista em relação ao controle da produção musical e ao estímulo ao enaltecimento do trabalho. Seus estudos tendem a cristalizar uma visão unívoca, que originou ou reforçou muitos mal-entendidos que cercam o assunto. E, à medida que contribuíram para superestimar o poder estatal, acabaram por reproduzir, consciente ou inconscientemente – mesmo que por vias oblíquas –, o próprio discurso oficial da ideologia do trabalhismo a respeito do caráter uno do Estado, que teria logrado alcançar um grau de plena identificação entre ele e a nação, ao agir como o tradutor de seus anseios mais profundos. Com muita freqüência, sustentou-se que o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) exerceu um controle absoluto sobre tudo o que se relacionava à música popular. Esta comunicação se lança na contracorrente dessas análises. Procura enfatizar que hegemonia não se confunde, de forma alguma, com dominação ou imposição absoluta, muito menos com uniformização. E, ao romper com a visão tradicional sobre os caminhos percorridos pelo samba produzido nessa época, recolhe evidências de que a ditadura estado-novista nem de longe foi inteiramente bem-sucedida em seu esforço para entronizar uma espécie de “samba de uma nota só”, voltado para a exaltação do regime e do trabalho. Pelo contrário, outras notas, outras dicções, outras pronúncias se fizeram ouvir no campo do samba, dando voz ao coro dos diferentes, por mais que o regime investisse na constituição do coro da unanimidade nacional.

Os becos da poesia.
Ademir Demarchi
Revista Babel (editor)
Revistababel@uol.com.br

Resumo: A poesia no século passado era publicada em jornais, revistas e livros e, em alguns casos, ganhava também gravação na própria voz do poeta ou de algum ator famoso, sendo veiculada em discos de vinil. Desde então muito tem mudado, pois a revolução da informática e dos equipamentos digitais tem possibilitado novos meios, barateado custos de equipamentos e permitido a sua manipulação pelos próprios poetas. Contemporaneamente a poesia deixou de circular em jornais, vive altos e baixos em revistas impressas sazonais publicadas por poetas e encontrou um campo amplo na internet, onde assiste-se a experimentações de publicação em blogues, sites e revistas eletrônicas, apresentando também outra mudança interessante que é a do crescimento da gravação de CDs pelos próprios poetas e sua apresentação em espetáculos multimídia”.

Poema -em -música
Annita Costa Malufe
Doutoranda em Teoria e História Literária- Unicamp
annita.costa@terra.com.br]

Resumo: O presente texto é uma breve apresentação da performance intitulada “poema-em-música”. O artigo busca esboçar alguns pressupostos teóricos, poéticos e composicionais que norteiam a concepção do projeto, realizado em parceria com o compositor Silvio Ferraz desde 2004. O “poema-em-música” é uma performance de poemas lidos (voz) com transformação eletrônica em tempo real (live eletronics) em que dois campos artísticos, a poesia e a música, se articulam, buscando criar um terceiro lugar comum.

O canto e as letras: educação e música sob o compasso dos mestres-de-capela no Brasil colonial
Diósnio Machado Neto
ECA-USP
dmneto@usp.br

Resumo: O binômio “letra e música” como veículo de diálogo com a constituição do saber é um conceito desenvolvido desde tempos imemoriais. Tanto na concepção do termo grego mousike, como na sua própria mitologia ou nos relatos bíblicos, músico e literato se confundiam no exercício da dramatização da vida e entendimento bipolar que não dissociava razão de sentimento. Nesse sentido, o mestre-de-música, no decorrer do tempo, identificou-se como uma das poucas profissões com acesso ao mundo das letras. O presente texto trata de demonstrar como no universo colonial, através de práticas consuetudinárias, o mestre-de-capela, e posteriormente o músico sem provisão eclesiástica, inseriu-se num aspecto pedagógico mais abrangente atuando como mestre de primeiras letras. Esse processo prevaleceu até mesmo entrando no século XIX, já que configurava construções de sentidos comunitários que conduziam a padrões de influência e poder, formas de uso e vias de acesso. Nesse sentido, o próprio sistema refletiria o jogo da dominância dos discursos, dos cânones, onde o domínio do mundo letrado estava associado, mais do que atualmente, ao universo sonoro.

De Poe a Mozart

Eduardo Seincman
ECA-USP
seincman@uol.com.br

Resumo: A composição (literária ou musical) não pode ser entendida somente como uma questão de linguagem. É por isso que o importante ensaio teórico de Edgar Allan Poe denomina-se “Filosofia da Composição”. Ao levantar questões que se referem mais propriamente ao Discurso das expressões artísticas, sua “filosofia” mostra ser um reflexo e ao mesmo tempo se reflete em outras áreas do conhecimento: em particular, constata-se uma mútua imbricação entre literatura e música. O Discurso diz respeito à maneira pela qual a obra de arte comunica-se com o público, e assim o fazendo, a técnica da composição já não é, por si só, suficiente: deve estar à serviço da expressão, levando-se em conta, portanto, os dados de recepção dos apreciadores. E, como não há recepção sem memória e esquecimento, é necessário considerar seus importantes papéis.

Série arquivo da palavra do selo fonográfico discoteca pública municipal (São Paulo, 1936- 1945): Braço de projetos natimortos, terreno fértil e inexplorado para pesquisas

Evaldo Piccino
Discoteca Oneyda Alvarenga – Centro Cultural São Paulo
Coordenador de Acervo Sonoro
Mestrando em Multimeios – IA/UNICAMP
evaldopshell@hotmail.com

Resumo: Parte integrante do projeto de políticas culturais do Departamento de Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo, recém criado por Mário de Andrade, o selo Discoteca Pública Municipal, pioneiro em lançamentos de Musica Brasileira erudita, étnica e folclórica em discos de 78 rotações, também lançou em 1937 a série Arquivo da Palavra , com gravações de interesse filológico e lingüístico. A série era dividida em dois sub-ramos: Homens ilustres do Brasil, registrsu da voz de pessoas do cenário artístico e intelectual do Brasil (como Lasar Segall e José de Alcântara Machado); e Pronúncias Regionais do Brasil, visando um estudo comparativo das dicções das diversas regiões do país. Com texto padrão elaborado por Manuel Bandeira e Nicanor Nascentes, as gravações do sub-ramo Pronúncias Regionais do Brasil foram apresentadas no I Congresso da Língua Nacional Cantada (São Paulo, 1937) e comporiam o Museu da Palavra da Discoteca.. Ao contrário das outras séries do selo: Folclore Musical Brasileiro e Música Erudita Brasileira, que recentemente foram retomadas como relançamento do selo Fonográfico da Discoteca, em parcerias com a Petrobras e o SESC e geraram inúmeras pesquisas, a série Arquivo da Palavra não foi nem relançada nem devidamente estudada, seja do ponto de vista lingüístico, fonográfico ou político-cultural. O mesmo ocorreu com o Congresso da Língua Cantada, que sequer teve realizada sua segunda edição e outros projetos do Departamento, como a Sociedade de Etnografia e Folclore e a Rádio-Escola. O objetivo da Comunicação é apresentar a série como terreno fértil e inexplorado para pesquisas

‘ Literatura e Hiper-Modernidade: de Edgar Al
lan Poe a Gilles Deleuze’

Flávio Viegas Amoreira
flavioamoreira@uol.com.br

”Literatura do Estilhaço: Linguagem e hipermodernidade; Manifesto-Tese
apresentando aspectos contemporâneos da escritura e intertextualidades nos limites pós-modernos. Geração 00: Poesia, Prosa e ‘Proesia’.”

As várias vozes da voz: sobre o experimentalismo na obra de Gilberto Mendes

Heloísa de Araújo Duarte Valente
Instituto de Artes/ Unesp
whvalent@terra.com.br

A presente comunicação pretende apontar, através da obra experimental vocal do compositor Gilberto Mendes, a incorporação de elementos voco-performáticos, ruídos originariamente não-musicais e outros, como conseqüência da implantação de uma paisagem sonora, estética e musical, que somente teria surgido na segunda metade do século XX. Para tanto, a abordagem se apoiará em conceitos de Paul Zumthor, R. Murray Schafer, além de depoimentos do próprio compositor.

Varoli e Tonelo: dois compositores da região do ABC paulista nos anos 1950 e 1960

Herom Vargas
Universidade Municipal de São Caetano do Sul – IMES
heromvargas@terra.com.br

Vilma Lemos
Universidade Municipal de São Caetano do Sul – IMES
vilemos@yahoo.com.br

Resumo: Sambas-canções, boleros, tangos e valsas, em sua maioria gêneros de temática romântica, tiveram grande preferência entre a população brasileira na primeira metade do século XX, sobretudo na década de 1950, em sintonia com a última fase da chamada Era do Rádio. No Grande ABC paulista não foi diferente. As quatro emissoras que surgiram na região a partir de 1953 (Rádio Clube e Rádio Emissora ABC – atual Rádio ABC – ambas de Santo André, fundadas em 1953, Rádio Independência, de São Bernardo do Campo, criada em 1957, e a Rádio Cacique, colocada no ar em 1958, com sede em São Caetano do Sul) foram instrumentos de divulgação de alguns compositores com esse perfil, casos de Osvaldo Varoli, Haroldo José e Romeu Tonelo. O objetivo deste trabalho é caracterizar algumas canções destes compositores criadas entre as décadas de 1950 e 1960 e interpretadas por cantores do ABC e de fora, como Inah Silva, Duo Guarujá, Haroldo José, Leila Silva, entre outros. A análise terá por base os textos das letras, segundo elementos da teoria literária e da análise do discurso, os elementos da linguagem musical da canção (arranjos, melodias, canto, etc.) e na história oral, centrada nos depoimentos dos próprios personagens. Estes depoimentos são parte do acervo de gravações dos projetos de pesquisa do Núcleo de Memórias do ABC da Universidade Municipal de S. Caetano do Sul – IMES.

Da sublimação do imaginário social à potência musical: algumas notas sobre a Relação texto-sonoridade no glam rock de David Bowie

Leonardo Aldrovandi
Faculdade de Ciências Humanas – FUMEC
leoaldrovandi@yahoo.com.br

Resumo: Este texto pretende ser um ponta-pé inicial de uma série de reflexões sobre a produção do que se convencionou chamar de glitter ou glam rock, partindo do conhecido imaginário visual, musical e narrativo de um de seus principais participantes, o popstar David Bowie. Procuraremos associar este imaginário a um patamar menos investigado: a força de expressão social e multi-sensorial provocada por esta música na primeira metade da década de setenta, tendo por base o pensamento sobre a relação entre a sonoridade das canções e suas letras.

En defensa del texto. una propuesta para el análisis musicológico.

Liliana Casanella Cué.
Filóloga; especialista en el Centro de Investigación y Desarrollo de la Música Cubana.
soniafuente@infomed.sld.cu

Resumen: Este trabajo pretende llamar la atención sobre las amplias posibilidades que el análisis del texto lingüístico aporta a la investigación musical. A partir de estudios concretos de textos pertenecientes a diversos géneros de la música cubana se abordan diferentes modos de acercamiento a la relación texto-letra/ texto-música, más allá de un enfoque puramente formal. La propuesta asume la premisa de que el estudio de los textos, en su sentido más amplio, permite abarcar no solo el enfoque estrictamente lingüístico y literario del discurso en pos de una siempre cuestionable valoración cualitativa, sino que extiende sus juicios a elementos sociológicos, etnológicos y de otras disciplinas afines, que aportan una inestimable información, siempre en interacción con la música. El desconocimiento de los códigos que diferencian los textos musicales de los musicalizados, sí como la insuficiente explotación de las potencialidades que, desde el punto de vista culturológico y sociológico, propician el análisis de marras, ocasionan una valoración tergiversada del discurso lingüístico-musical y por tanto, afectan la recepción de la obra aún cuando esto no ocurra estrictamente desde el punto de vista musical. De ello son ejemplo diversos enfoques acerca de los textos de la música popular bailable, en comparación con géneros cancionísticos, así como los que abordan la música campesina, cuya estrofa identitaria es la décima espinela. Las investigaciones acerca de los vínculos entre letra y música desde este punto de vista resultan insuficientes, pues predominan aquellas que defienden el enfoque semiótico y semiológico, así como el de la aplicación de los principios de la lingüística generativa y estructural.

Vozes e ritos – as oralidade no mundo

Magda Dourado Pucci
Pós-graduanda em Ciências Sociais – Antropologia – PUC- SP
mdpucci@uol.com.br

Resumo: Ao nos referirmos à voz, falamos em timbres, tons, línguas, entonações, respirações, melos (melodia), ritmos, versos, narrativas, dialetos, poemas, prosódia, ritos, expressões, coros, corpo, movimentos, pulsações, gestos, performances. E, com isso, rapidamente adentramos o universo dos mitos e dos ritos permeadas pela oralidade, o universo das sonoridades e musicalidades, sempre plurais. Neste trabalho, pretendo destacar a riqueza dos diferentes registros e timbres vocais presentes em diferentes tradições orais do mundo. Narradores e cantores da África, da Ásia, do Mediterrâneo, da Europa, das Américas, assim como os índios brasileiros, exercem há milênios a arte de narrar histórias e cantar, explorando diferentes nuances da voz. Proponho um mergulho nessas vocalidades, relacionando-as a aspectos religiosos, cosmológicos, comportamentais de modo a compreender mais profundamente esse fenômeno sonoro. Com uma abordagem etnomusicológica – resultante da mescla entre Musicologia e Antropologia – busco perceber como essas oralidades diversas se multiplicam, como elas estão presentes na musicalidade e como elas se conectam de diferentes maneiras, expressando imaginários complexos.

Os espaços da performance musical

Márcia Halluli Menneh
Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo/ SVMA/DEPAVE ; UniSantos

Resumo: O texto discute as características físico-ambientais de espaços livres, públicos ou não, que vem sendo apropriados (ou que foram projetados) para abrigar apresentações musicais ao ar livre, de porte diferenciado, acolhendo os diversos gêneros musicais. Essas apresentações alteram a paisagem dos lugares onde acontecem, qualificando e alterando nossa percepção da paisagem As apresentações artísticas ao ar livre (em especial as musicais) assumem importância na configuração da paisagem urbana e tem impacto significativo na vida cotidiana. O espaço livre público é (por definição) acessível a qualquer um, de forma que é propício para reunir os cidadãos urbanos para diversos fins. Mesmo no caso das apresentações ao ar livre em locais de acesso restrito, devemos lembrar que, na maior parte dos casos, o som ultrapassa os limites físicos do espaço em questão, atingindo transeuntes e habitantes d
o entorno. Pelas suas características democráticas, as apresentações ao ar livre foram incorporadas às políticas públicas municipais e, muitas delas, contam com apoio/patrocínio de diversas empresas face seu alcance e apelo popular (divulgação/midia). São, também, utilizadas em diversos eventos políticos. O presente trabalho tem por objetivo a identificação destes espaços, relacionando suas vocações e uso, bem como os elementos que geram a configuração paisagística propícia para tais fins.

O erotismo sagrado de Chico Buarque – uma breve leitura da canção Sobre todas as coisas.

Márcio Ronei Cravo Soares
Mestrando em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais
contato: marcioronei@yahoo.com.br

Resumo : Propõe-se realizar uma análise interpretativa da canção “Sobre todas as coisas”, de Edu Lobo e Chico Buarque, considerando-se gravação feita por Chico Buarque no disco Paratodos, de 1993. Para a análise, é imprescindível perceber os textos verbal e musical como partes constituintes de uma mesma unidade, estando, letra e música, em uma relação dialógica, responsável por manter correspondências fundamentais para que seja possível compreender, de modo amplo, o(s) discursos(s) presentes na canção citada. Devem ser considerados, também, aspectos interpretativos do canto de Chico Buarque, bem como traços estilísticos da instrumentação usada na gravação.

Voz e Performance na Música de Luciano Berio
Marcos Júlio Sergl
IA/ UNESP; USJT
mjsergl@osite.com.br

Resumo: A poesia no século XX deixa de ser pensada dentro de seus próprios preceitos, uma vez que podemos descobrir poesia na prosa. A palavra poética liberta-se para dar vazão a novas dimensões expressivas. A possibilidade de resultados infinitos exige uma leitura consciente. Para tanto se faz necessário direcionar todos os sentidos para apreender e consumar o objeto estético, resultando numa completa unidade de nosso ser, de nossa consciência: uma adesão criativa. A música no século XX também se liberta de seus parâmetros pré-estabelecidos pela cultura ocidental. A partir do surgimento da música dita atonal, o papel da melodia, particularmente no que concerne ao emprego da voz, é sensivelmente atenuado, ou mesmo completamente anulado face ao interesse crescente pelas articulações verbais muito diferenciadas. Dessa forma, materiais verbais em sua integralidade e entonação musical se reencontram curiosamente na música contemporânea – notadamente após o surgimento da música eletroacústica e o desenvolvimento acentuado dos estudos da fonética e da fonologia – em um contexto propício à supressão de toda oposição, enquanto origem presumidamente comum. Analisamos a obra musical de Luciano Berio, compositor italiano, que busca realizar a interface entre poesia e música, pensadas como relação de continuidade e integração, como fronteiras nas quais a passagem de uma para outra nem seja notada, uma nova relação entre palavra e som. Desse ponto de vista, a obra de Berio constitui um exemplo singular de toda sua geração de uma tomada de consciência radical de retorno à origem da música enquanto entonação da palavra, a voz identificada historicamente com a inflexão melódica. Nesse sentido, a melodia ganha seu lugar na obra de Berio, mas ela se apresenta como um dado da história, uma incursão crítica, ou bem, como uma epifania (lírica e às vezes dramática) do gesto vocal associado ao passado; em todo caso como uma das facetas, entre outras tantas, de manifestação vocal.

Letra, Voz e Memória: À Escuta do Fado

Mônica Rebecca Ferrari Nunes – FAAP / UNIFAI
nunes.aureli@uol.com.br

Resumo:: Este trabalho apresenta os resultados parciais da Pesquisa que desenvolvo, junto ao Musimid, destinada a refletir sobre a memória gerada pelos tempos da escuta do fado entre imigrantes portugueses em Santos. Com base na teoria semiótica da cultura, representada por Iúri Lotman, Bóris Uspenskii, Jerusa Pires Ferreira, e também fundamentada nos estudos sobre Memória e Mídia (Zumthor,; Halbwachs; Yates; Nunes) , a presente reflexão analisa as tramas da memória, que por meio do tempo da escuta de vozes performáticas, podem ser acionadas por certos temas que percorrem fados que entoam espaços, personagens, ofícios e tradições. Letra e voz criam liames para as representações de mundos deixados para trás: bairros, ruas, amigos das farras, amores, personagens cotidianos. Deslocar-se da terra natal é também romper vínculos com afetos, espaços e tempos compartilhados, ainda que este deslocamento possa ser provisório, uma vez que o imigrante, diferentemente do exilado, voltará sempre que quiser ou puder. A memória do espaço se amplia nos vestígios dos materiais e objetos cantados, já longínquos do imigrante que escuta o fado. Se partir é morrer um pouco, como canta o fadista Carlos do Carmo, a permanência e a escuta de tais canções podem significar a superação simbólica da morte, das perdas que as rupturas instalam e, por seu turno, assegurar, por meio da memória, a re-semantização destes territórios esvaziados pela distância.

Devir-Rádio / Devir-Música:
o rádio contrapontístico de Glenn Gould em análise

Rodrigo Manzano
Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
Faculdade de Comunicação Social (UniFIAMFAAM, SP)
rodrigomanzano@uol.com.br

Resumo: Este trabalho apresenta, analisa e contextualiza a Solitude Trilogy, série de documentários radiofônicos produzida pelo músico, pianista e compositor canadense Glenn Gould (1932-1982). Os três documentários – “The Idea of North” (1967), “The Latecomers” (1969) e “The Quiet in the Land” (1977), transmitidos pela emissora canadense CBC – representam, no âmbito dos estudos de linguagem, a intersecção entre os suportes massivos de comunicação e a arte sônica, visto que o princípio de edição desses programas documentais fundamentava-se na abordagem da sintaxe radiofônica a partir de critérios musicais, postulando o que Gould denominou “rádio como música” e “rádio contrapontístico”, percepção notadamente influenciada pela obra de J. S. Bach (1685-1750), compositor bastante executado por Gould em sua carreira pianística. O contexto metodológico desta pesquisa considera que seja necessária uma reflexão sobre o papel estético do rádio contemporâneo, ressaltando o caráter figurativo/representativo da fala radiofônica em detrimento de princípios estéticos mais articulados às sonoridades. Operaram como base para uma crítica da linguagem radiofônica vigente os conceitos desenvolvidos por Gilles Deleuze e Felix Guattari de “palavra de ordem” e de “devir”. Esta comunicação é um excerto das conclusões de pesquisa desenvolvida no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, da PUC-SP, entre os anos de 2004 e 2006.

Refazendo a Refazenda: diálogos com Gilberto Gil em dois momentos de intervenção social de Ana Maria Machado

Susanna Ventura –FFLCH- USP
ventura@bitgnet.com.br

“Refazendo a Refazenda”: diálogos com Gilberto Gil em dois momentos de intervenção social de Ana Maria Machado

Susanna Ventura ( MusiMid e Universidade de S. Paulo)

Resumo: A presente comunicação debruça-se sobre dois momentos do diálogo da escritora brasileira Ana Maria Machado com a obra, o artista e o cidadão Gilberto Gil. Na obra da escritora existe um forte diálogo com a Música Popular Brasileira. Tomamos como primeiro momento de diálogo com Gilberto Gil o romance Tropical sol da liberdade, publicado em 1988. O segundo, momento de diálogo, em contraponto ao primeiro, tomamos da intervenção “Carta ao ministro”, publicada pela autora na imprensa brasileira em 2004.

Pedro Páramo: los rumores del sonido”
Dra. Susana González Aktories
Facultad de Fi
losofía y Letras, UNAM

Tomando por base conceitos de Murray Schafer e Paul Zumthor, o texto pretende abordar alguns aspectos relativos às paisagens sonoras expostas na obra de Juan Rulfo: paisagens sonoras evocadas pelos próprios elementos da narrativa, além da construção de paisagens sonoras internas à linguagem literária.

Uma analogia entre linguagem verbal e linguagem musical

Tânia Maria Silva Rêgo
Diretora da Escola de Música do Estado do Maranhão – Lilah Lisboa de Araújo.
e-mail: taniarego2@yahoo.com.br

Resumo: A posse da linguagem é o que mais claramente distingue o homem dos outros animais. Uma grande parte de lingüistas aponta que a fala é historicamente anterior à escrita. A psicanálise freudiana e de seus seguidores, tece importantes conceitos desse imbricado novelo de: signo/significante/significado e o poder simbólico da palavra evocar o que está ausente, dizer e não dizer ou mesmo criar, inventar e reinventar. Nesse sentido, estar diante de uma linguagem é estar diante de uma transcendência. Uma primeira aproximação entre a linguagem verbal e musical dá-se pela constatação delas serem linguagens sonoras. O som e suas variações rítmicas são a base fundamental de suas complexidades. A gênese canto-palavra (surgindo juntas como forma de expressão) é demonstrada nos cantos guerreiros, cantos de trabalho, cantos festivos e demais ritos sociais. A música, na maioria das vezes desempenha um papel social/mágico e não necessariamente estético. No entanto esse encontro, na maioria das vezes simbiótico, apresenta paradoxos ao longo do percurso histórico. Diante da impossibilidade de aplicar um conceito indistintamente a fenômenos tão diversos na música (ritos primitivos, monodia, polifonia, etc.) e na linguagem verbal ( atos de alertar, de informar, etc.). Fez-se um recorte, adotando como eixo central desta comunicação a música popular brasileira urbana, tonal, da década de 50 do século XX e a poesia. Schurmann, ao verificar os procedimentos nas estruturas tonais, reconhece uma surpreendente analogia com aqueles das estruturas próprias à linguagem poética. .Observando todas as analogias e coincidências tratadas, percebemos que as especificidades da música e da poesia são irredutíveis; é possível chegar-se ao máximo da aproximação, esmiúça-las, mas não entendê-las como unidade, como uma fusão. Ambas se relacionam de uma forma quase didática, relação de complementação explicativa, facilitando e contribuindo para uma transformação social onde o ouvinte/interprete crie e recrie.

Análise prosódica como ferramenta de interpretação da canção: um enfoque sobre a questão do “núcleo de identidade” da canção popular

Prof. Wladimir Mattos (FASM)
wlad_mattos@yahoo.com.br

Resumo: No contexto dos diversos gêneros de música popular, ao nos referirmos a uma canção enquanto objeto de interpretação musical, sobretudo, quando ela está ausente no ato da referência (quer por intermédio de uma execução “ao vivo”, da reprodução de uma mídia gravada ou de uma partitura), compartilhamos com nossos interlocutores, quando muito, uma concepção aproximada do que se reconhece como o “núcleo de identidade” desta canção. É, portanto, a partir deste senso comum, com maior ou menor grau de convergência, que se estabelecem as interações musicais nas situações de ensino/aprendizagem e performance/apreciação, entre outros processos interpretativos. A partir de um modelo analítico inicialmente proposto para o tratamento das tensões acentuais do ritmo prosódico entre componentes melódicos verbais e musicais, chamamos a atenção para as possíveis contribuições desta prática analítica na identificação das características que permitiriam a um grupo de interlocutores o compartilhamento de noções das mais gerais às mais particulares sobre os diferentes níveis de percepção dos parâmetros elementares que constituem a canção. Finalmente, ao observarmos o alto grau de liberdade interpretativa que caracteriza as diversas tradições da música popular brasileira, destacamos a validade instrumental de procedimentos analíticos como o que propomos, sem os quais, ao nos referirmos a uma mesma música, corremos o risco de não alcançarmos um nível de fruição dos seus detalhes, ou até mesmo, de nos referirmos à músicas completamente diferentes.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.