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Apresentação

As efemérides… O gosto e hábito cultivado pelas comemorações de datas que formam “números redondos” fazem do ano de 2014 uma galeria de eventos em nível local e global que vêm gerando importantes repercussões na vida social, cultural, política, nas subjetividades e nos afetos.: a I Guerra Mundial eclodiu em 1914; o suicídio de Getúlio Vargas deu-se em agosto de 1954; o Golpe Militar, em 1964; o movimento Diretas Já, em 1984. Em nível internacional, a Revolução dos Cravos, em Portugal ocorreu em 1974, derrubando a ditadura. Em todos esses acontecimentos de grande repercussão social e midiática, a música esteve presente de modo que ultrapassa a função “coadjuvante” que normalmente lhe é atribuída: composta especialmente ou apropriada, passou e ainda passa por vários processos de ressignificação e apropriações. Basta relembrar a incontornável obra do compositor chileno Sergio Ortega “O povo unido jamais será vencido”, cantada nos palanques de Santiago, em 1973, no ano seguinte sendo levada a Portugal, com o texto traduzido. Hoje, o título da obra transformou-se num grito de guerra que surge em várias manifestações coletivas, de diferentes motivações e com vários usos, tendo-se esquecido a origem.

Falar de músicas também remete a falar de músicos: compositores, intérpretes, arranjadores, bem como outras pessoas ligadas ao circuito da produção musical: editores, críticos, professores, agentes do mercado fonográfico etc. Quando a sociedade não vive a democracia, surge a necessidade de criar subterfúgios para escapar à censura e à perseguição política. Mas há também aqueles que não apenas enfrentam, como também afrontam os regimes. Aqui, dentre tantos ícones possíveis, destaca-se Pete Seeger, morto no começo deste ano de 2014, importante voz na luta pelos direitos civis. É de se indagar quantos serão os cantautores de canção de protesto (denominação que varia em cada país) que terão feito de sua vida um álbum de obras… A sua obra é a sua voz; a sua determinação, sua bandeira política… Nos eventos que reúnem multidões, a música tem função catalizadora e impõe a ordem (organização), através de seus traços elementares rítmicos, andamento. Mas há situações em que o som precisa ser trocado pelo silêncio. Sem som é possível dizer mais do que com som…

O fato é que com som ou sem som, acontecimentos cívicos criam seus conjuntos de signos, que se convertem em memória individual ou coletiva. Lágrimas (de tristeza ou alegria), cicatrizes e feridas (não raro, abertas) são reconstruídas pelos ouvidos que testemunham e as revivem – uma vez que peças de repertório musical têm o poder de fazer aflorar pela memória. O 10º Encontro de Música e Mídia procurará tirar proveito das efemérides para problematizar e recolocar em debate tantos eventos socialmente importantes, em nível global. Para tanto, contará com a colaboração de pesquisadores convidados, para a organização do evento: Márcia Ramos de Oliveira (UDESC) e Adalberto Paranhos (UFU), além de convidados nacionais e internacionais, com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Cultura Midiática (UNIP) e do Programa de Pós-Graduação em Música (USP).

Com o objetivo de ampliar os debates, o MusiMid convida os pesquisadores interessados a participar do evento, encaminhando propostas de comunicação, pôsteres e apresentações artísticas.

Linhas temáticas

1. História/historicidade/temporalidade

A experiência contemporânea de viver em um mundo dominado por imagens e sons, em meio à tecnologia que se intensifica, traz o desafio de refletir sobre as formas de usar estas recursos audiovisuais e seu armazenamento, que parecem infinitos nesta era. Ouvir e ver o passado nunca foram tarefas simples para os historiadores e outros pesquisadores que lidam com música, cultura e arte no passado. Trata-se de fontes pautadas pela tensão entre subjetividade e objetividade, uma vez que lidam com memórias que resultam da recepção do oral ao audiovisual, marcadas pela impressão e testemunho, experiência estética e registro documental. Como bem lembra o historiador Marc Bloch, estas fontes não são “mágicas”, nem portadoras de um sentido em si, mas plenas de significado quando devidamente questionadas. Este eixo temático reúne trabalhos e pesquisas que tratem destes desafios.

2. Escuta e apropriações da música nos eixos espaço-temporais

A música e as canções em particular têm a capacidade de passar por processos ressemantização, de modo a adquirir novos usos, em tempos e espaços diferentes. Mais ainda, a escuta, o consumo, os usos e as apropriações feitas dos repertórios musicais por parte dos ouvintes/receptores trazem muitas vezes sentidos não contemplados ou dados pela autoria ou pelo espaço amplo da produção. Este eixo temático dá atenção ao campo de recepção, aos usos das músicas na vida cotidiana, ou como recurso na construção de imaginários sociais, políticos, identidades e pertencimentos coletivos de representação e ação social, onde tempo e espaço atuam como agentes que tornam ainda mais complexos estes processos.

3. Formas e formas de composição e transmissão

O compositor Igor Stravinsky afirmou, certa vez, uma frase de impacto: a música não quer dizer nada além da sua própria linguagem, sua materialidade acústica. Justamente por essa razão, pode ser veículo de qualquer coisa ou ideia: como trilha sonora, catalisa a ação cênica; como spot ou jingle vende produtos e bens, também acompanha atividades prosaicas do dia a dia etc. A música também simboliza: experiências impactantes e inesquecíveis em nível pessoal ou coletivo. Nesse aspecto, em particular, manifestações sociais têm sua comunicabilidade efetiva e realçada, quando a música é elemento integrante. E, em várias situações, a música é composta sobre formas específicas, com esse determinado fim de chamamento: hinos pátrios, canções de protesto são exemplos cabais. Mas também existem as composições musicais que tentam recriar, através de procedimentos particulares, os próprios acontecimentos – tal é o caso da Abertura solene 1812, de Tchaikovsky. Existem, ainda, obras cujo vínculo se estabelece através de homenagem, dedicatórias (etc.): Beethoven dedicou sua terceira sinfonia (op. 55, “Heroica”). Este eixo temático pretende debater as diversas situações em que a música, em suas formas composicionais, tem caráter funcional, incitando à manifestação, à luta, em prol de uma “bandeira”

4. Novos mundos, novos signos musicais

Guerra e exílio e suas repercussões na criação artística, motivados pela circulação dos seus protagonistas. O caso das vanguardas europeias: Neue Musik, jazz e música para o cinema. A suposta universalidade das linguagens artísticas e seu desenvolvimento extra-muros  (simbólicos, territoriais). A noção de “entre-lugar” de Homi Bhabha, ajuda a apensar em vidas na fronteira, em subjetividades que se fazem nos entremeios, nas instersecções culturais, que se manifestam nas obas musicais como também na sua escuta, por públicos diferentes que circundam a experiência migrante.

Estrutura geral

O 10º Encontro se desenrolará, tendo, dentre as suas atividades: Mesas redondas, com debatedores convidados; palestras; oficinas, apresentações artísticas e sessões temáticas de trabalhos escritos e audiovisuais, exposição de pôsteres (vide formas de participação e respectivo regulamento):

Palestras:  a cargo de convidados especialistas no tema geral do evento.

Mesas-redondas. As mesas-redondas terão, como objetivo principal, debater as questões acima e serão distribuídas de acordo com a natureza das linguagens: sonoras, audiovisuais e de cena (ao vivo). Os participantes apresentarão suas considerações tendo, como parâmetro, os eixos temáticos descritos.

Sessões temáticas. Compostas por trabalhos submetidos ao comitê científico e selecionados pelo comitê de leitura. Poderão constar de comunicações orais, audiovisuais e pôsteres.

Apresentações artísticas e musicais. Fazem parte das atividades complementares do evento.

Programação

17 de setembro

9h00–9h30
Credenciamento

9h30–10h00
Solenidade de abertura

Marina A. López Soligo
Coordenadora da Pós-Graduação da UNIP

Prof. Dr. Mauricio Ribeiro da Silva
Coordenador da Pós-Graduação em Comunicação da UNIP

Heloísa de A. D. Valente
Simone Luci Pereira
Luiz Fukushiro
Coordenadores do MusiMid

10h00–12h00
Mesa-redonda 1: Com som. Sem som. Aprendendo a falar e a calar.
Daphne Patai
Marisa Fonterrada
Susana Sardo
Coordenação: Ricardo Santhiago

12h00–13h30
Intervalo

13h30–15h00
Sessões temáticas 1 e 2
Comunicações orais

15h00–16h30
Exibição/concerto multimídia
A geladeira, de Paulo Chagas
Comentarista: André Egg

16h00–16h30
Intervalo

16h30–18h00
Mesa-redonda 2: Com som. Sem som. História, historicidadade e temporalidade no Brasil contemporâneo
Márcia Ramos de Oliveira
Adalberto Paranhos
Kátia Paranhos
Coordenação: Simone L. Pereira

18h00–19h30
Lançamentos e apresentações artísticas

18 de setembro

9h00–10h30
Sessões temáticas 3 e 4
Comunicações orais

10h30–12h00
Diálogo: Pete Seeger and freedom of song
David K. Dunaway

Comentadores
Ricardo Santhiago
Jorge Miklos

Comentadores
Ricardo Santhiago
Jorge Miklos

12h00–13h30
Intervalo

13h30–15h00
Sessões temáticas 5 e 6
Comunicações orais

15h00–16h00
Sessão temática MusiMid
Apresentação de projetos concluídos e em andamento
Moderadora: Heloísa de A. D. Valente

16h00–16h30
Intervalo

16h30–18h00
Mesa-redonda 3: Formas, formas de composição e transmissão musical na América Latina
Marita Fornaro
Maria Mercedes Liska
Isabel Porto Nogueira
Coordenação: Marcel O. Souza

19 de setembro

9h00–10h30
Sessões temáticas 7 e 8
Comunicações orais

10h30–12h00
Mesa-redonda 4: Com som. Sem som. As imagens e o espaço.
Atílio Avancini
Maurício R. da Silva
Miguel Angel García
Jorge Miklos
Coordenação: Luiz Fukushiro

12h00–13h30
Intervalo

13h30–15h00
Sessão temática
Painel geral dos coordenadores

15h30–16h45
Exibição de O sole mio! Música italiana, na terra da garoa.
Direção: Pedro Miguez
Produção: Heloísa de A. D. Valente e Marta Fonterrada

16h45–17h30
Intervalo

17h30—19h00
Mesa redonda 5: Com som. Sem som: liberdades políticas, liberdades poéticas
André Egg
Lina Maria Noronha
Coordenação: Carla Delgado de Souza

Programação sujeita a alterações.

Textos completos

Anais do 10º Encontro Internacional de Música e Mídia

ISBN 978-85-62959-34-9

Conferências

Tortura e Transcendência: Notas Preliminares sobre A Geladeira

Paulo C. Chagas

El clavel rojo sobre el piano: Militancia política y censura en la vida artística de Osvaldo Pugliese

María Mercedes Liska

A música como linguagem e os conceitos de música universal e música nacional

Lina Maria Ribeiro de Noronha

Vozes cruzadas: dialogismo e política na música popular em tempos de ditadura

Adalberto Paranhos

Com som, sem som: história, o Grupo Opinião e o “bicho”

Kátia Rodrigues Paranhos

Sessão MusiMid: Trabalhos realizados e em andamento

Heloísa de A. D. Valente

1. Escuta e apropriações da música nos eixos espaço-temporais: tecnologia e subjetividade

Músicas de “todos os tempos e lugares”, aqui e agora: novos rumos da “música brasileira” na cultura digital

Thiago Pires Galletta

Áudio-imagem: intento antropológico para uma readaptação da escuta frente às novas mídias do som

Luiza Spínola Amaral

Agenciamento semiósico e intersubjetividade: atividade comunicacional entre internautas e sistemas de recomendação de músicas

Natália Moura Pacheco Cortez

8tracks de separação: redes sociais interligando pessoas pelo mundo através da música

Deborah Cattani Gerson

A individualização virou tendência na era da portabilidade?

Otávio Santos

2. Novos mundos, novos signos musicais: formas de sensibilidade e composição

Música e linguagem: modalidades do pensamento poético

Jordanna Duarte e Werner Aguiar

Três cantigas infantis brasileiras: memória, experiência simbólica e estética na formação humanística e musical da infância

Eusiel Rego

Analise semiótica na Regência musical

Caio Anderson Ramires Cepp

Da MPB surgida em 1964 à Nova MPB do século XXI: retomadas, avanços, saturações e digressões

Laura Figueiredo Dantas e Heloísa de Araújo Duarte Valente

 

3. Escuta e apropriações da música nos eixos espaço-temporais: formas de transmissão

Vanguarda Paulista e a abertura política: o lado cultural da redemocratização, na São Paulo dos anos 1980

Mauro Nascimento Clemente e Heloísa Duarte Valente

A ressignificação de enunciados da canção na perspectiva do ouvinte/analista: caso “Loucos de Cara” no contexto Brasil 2013-2014

Ana Lúcia Fontenele

A festa e a luta: São Paulo e o rap político dos Racionais

Gabriel Gutierrez Mendes

Juventude, corpo e produção de sentidos nos clipes de rock brasileiro dos anos 80

Gabriel Guimarães e Denise da Costa Oliveira Siqueira

Pelo direito de ouvir: Falcão, música e estereótipos (esboço)

Ivan Fortunato

4. História/historicidade/temporalidade: música, mídia e política

Vozes em harmonia no Estado Novo: a música popular brasileira e o programa Hora do Brasil

Carla Montuori Fernandes e Genira Chagas

Os desafios da produção midiática na década de 1940: o caso do artista-comunicador José Medina

Vera da Cunha Pasqualin

Que viva Villa! – Os Corridos como narrativa da Revolução

Marco Antonio BIN

Preconceito e experiência estética musical em T. W. Adorno

Rafael Baioni e Luiz Fukushiro

5. Novos mundos, novos signos musicais: interfaces entre música e cinema

Música para ver e ouvir: a contribuição musical de André Abujamra ao cinema brasileiro

Geórgia Cynara Coelho de Souza Santana

O universo imagético/musical na obra de Lars Von Trier

Marcos Júlio Sergl

Som da anarquia: um estudo sobre o caos em Batman

Rogério Sobreira e Anselmo Guerra

Música e História no filme “Tangos – O Exílio de Gardel”

Marcel de Oliveira Souza e Scheyla Tizatto dos Santos

6. Escuta e apropriações da música nos eixos espaço-temporais: formas e formas de composição e transmissão

O entrelugar da cena: reflexões para a compreensão das cenas musicais enquanto espaços de experiências identitárias e processos de subjetivação

Luciana Xavier de Oliveira

Um fantasma assombra a Rocinha e além: Michael Jackson

Leandra Lambert

“Eles podem ser malucos, mas são profissionais!” Um estudo de recepção sobre o grupo Black Sabbath no programa Fantástico

Fábio Cruz

7. História/historicidade/temporalidade: fontes visuais para o estudo da performance musical

“Para ser bonita e bela não preciso andar ornada”: a construção da diva na música brasileira popular e de concerto entre 1950 e 1960

Isabel Porto Nogueira

A performance atualizada: uma análise da construção de personagens nas capas de disco

Gabriel Gottardo Rocha

Cruzando olhares e signos: um paralelo entre fotografias de mulheres em programas de concerto e capas de disco

Jamile Staevie Ayres