4º Encontro de Música e Mídia: O Brasil dos Gilbertos (2009) Resumos

Sessão 1: Gilberto Mendes

Uma aproximação biográfica do universo poético-musical de Gilberto Mendes
Carla Delgado de Souza
carla-delgado@uol.com.br
carladesouza@hotmail.com

Embora seja comumente interpretada como um gênero literário, é possível notar a importância que as biografias e as autobiografias têm adquirido no cenário acadêmico mundial, sobretudo se levarmos em consideração que a perspectiva biográfica tem se mostrado presente como eixo norteador de pesquisas históricas, sociológicas e antropológicas, pois permite realizar discussões sobre as noções de indivíduo, pessoa e personagem com certa vantagem sobre as demais abordagens. É com base nessas afirmativas que pretendo aqui fazer algumas reflexões sobre a trajetória de Gilberto Mendes, importante compositor contemporâneo brasileiro. Acredito que, partindo de uma perspectiva biográfica, é possível descobrir quais são as regras sociais inerentes ao universo artístico-musical brasileiro e contemporâneo. Assim pensada, a trajetória de Gilberto Mendes nos parece exemplar, na medida em que o compositor santista consegue, como poucos, fazer as pontes e as ligações entre o movimento de vanguarda (atestando com isso seus alcances e seus limites) e outras linguagens musicais, como a música popular norte-americana, a música de cinema e a tradição musical clássico-romântica. A argumentação central dessa proposta de trabalho pretende, portanto, ter como material principal para a análise a afirmação, diversas vezes propalada por Gilberto Mendes, de que ele se sente três compositores ao mesmo tempo: um clássico-romântico, um de vanguarda e outro mais popular. Explorando a diversidade de criações artísticas e de concepções musicais do compositor, é possível identificar como essas suas três identidades artístico-composicionais assumem um caráter de complementaridade para a constituição de sua poética musical.

Palavras-Chave: Gilberto Mendes, biografia, trajetória, campo social, poética musical.

Música eletroacústica no Brasil e o pioneirismo de Gilberto Mendes
Antenor Ferreira Corrêa
antenor@usp.br

O “mote” deste trabalho foi a constatação de um fato já discutido por historiadores da música brasileira, a saber: a falta de critério metodológico verificável em alguns trabalhos historiográficos. Embora muito comentado, somente tomei consciência da extensão deste fato recentemente, durante o desenvolvimento de um projeto de minha autoria que resultou na publicação de material didático multi-midiático sobre a música eletroacústica no Brasil. Para melhor clareza sobre o teor e possíveis implicações advindas da referida constatação da inadequação metodológica, relato alguns antecedentes que motivaram a elaboração deste artigo. Começo com a descrição do projeto por mim realizado que visava à confecção de um documentário com suporte em DVD versando sobre a música eletroacústica desde seus primórdios na França e seus desdobramentos em solo brasileiro. São descritas passagens significativas das entrevistas realizadas com compositores brasileiros adeptos dessa estética e confrontadas com dados existentes na literatura especializada em língua portuguesa. A seguir, exponho um fato curioso percebido durante o processo de produção deste material: o problema de fontes históricas conflitantes na atribuição de pioneirismo. O caso do compositor Gilberto Mendes é, então, analisado mais detidamente e tomado como paradigma dessa situação de imprecisão historiográfica, uma vez que o mesmo não consta na bibliografia nacional, embora certamente deva ser considerado como um dos pioneiros na implantação da música eletroacústica no Brasil. Documentos e depoimentos são comparados, analisados e discutidos, apontando, ao fim, para uma situação musicológica pendente em razão da arbitrariedade de critérios metodológicos.

O meu amigo Koellreutter de Gilberto Mendes
Maria Yuka de Almeida Prado
yuka@usp.br

Gilberto Mendes, um dos maiores nomes da música erudita brasileira, compõe “O meu amigo Koellreutter” para voz feminina, marimba e piano, em 1984, em comemoração ao septuagésimo aniversário de Hans-Joachim Koellreutter, uma personalidade musical também marcante, que mudou radicalmente os rumos da educação musical, da concepção e da composição da música brasileira. O enfoque deste trabalho restringe-se à influência da cultura japonesa em Koellreutter nesta obra de Gilberto Mendes, onde podemos encontrar prováveis nuances sutis de pentatonismos engajados em uma sonoridade e estrutura minimalista. Esta pesquisa faz parte da tese de doutorado em andamento intitulada “A Poética Japonesa na Canção Brasileira de Oito Compositores”. Podemos defini-la como sendo uma “canção sem palavras” pelo uso do vocalize em “a” em uníssono com a marimba em toda a peça. É fundamentada no conceito hermenêutico de Paul Ricoeur da “decifração do sentido oculto através do sentido aparente”, no termo “fusão de horizontes” de Hans Georg Gadamer e na análise da canção de Deborah Stein e Robert Spillman. Condizente com as tendências da música do século XX, esta canção de Gilberto Mendes reflete o amálgama das concepções divergentes no que concerne às tonalidades, atonalidades, linguagens sobrepostas e multifacetadas, assim como a reverberação da miscigenação de várias culturas que compõem a nação.

Um percurso pela paisagem sonora de Gilberto Mendes
Marcos Júlio Sergl
mj.sergl@uol.com.br

A partir dos conceitos de Murray Schafer a respeito da paisagem sonora e da concepção de peças comerciais, pretendemos fazer uma análise da obra “Asthmatour”, de Gilberto Mendes. Ao analisarmos uma peça comercial precisamos ter em mente quer a propaganda lida com elementos do tempo e do espaço na medida em que reúne passado, presente e futuro. O passado fixado na memória, o presente implícito na observação e o futuro na imaginação. “Asthmatour” se vale destes tempos ao utilizar efeitos de dispnéia asmática, o caos provocado por ela e a solução de se viajar com uma empresa especializada, que nos libera do problema. Entra em ação outro elemento, a imaginação. Imaginar, que vem de imago, significa imitar o ato mental do projetar e do antever. A construção do pensamento flui entre desejos e necessidades. No ato de “propagar” existe uma conversa íntima entre o pensar e o fazer. Esse diálogo íntimo, que é a comunicação interna, revela que se faz necessário externar o ato comunicativo. Ao externá-lo, é preciso fazer que ele seja recebido, aceito. Em “Asthmatour”, Gilberto Mendes finaliza a obra com um jingle escrito de forma a induzir o receptor a desejar a viagem e utiliza na assinatura a garota-propaganda padrão, com voz convincente e afetada. Faremos ainda uma comparação da estrutura de “Asthmatour” com os recursos utilizados no “Motete em ré menor” e em ”nascemorre”. Enfatizamos que nestas três composições Gilberto Mendes se vale de recursos vocais variados, recriados em cada performance de forma inédita, fato que as torna tão interessantes tanto para o emissor quanto para o receptor.

Sessão 2 Gilberto Mendes (Iniciação científica)

Cinemeiro ou Cineasta dos Sons? o cinema e a obra de Gilberto Mendes
Plínio Birskis Barros
pliniobbarros@yahoo.com.br

Certa vez, Gilberto Mendes confessou que poderia ter sido cineasta, e não músico, se tivesse tido a oportunidade. Até hoje a vida ainda não colocou uma câmera em suas mãos, mas desde cedo, entregou-lhe os sons e a possibilidade de fazer música numa época em que os limites entre as artes se confundem e se embaralham, interdisciplinarmente. Já nas suas primeiras peças, ouvimos as melodias e harmonias da música do cinema americano dos anos 30; “ouvi-vemos” em seu teatro-musical o silêncio de Antonioni, certo surrealismo de Godard
e, nas obras da maturidade – como Rastro Harmônico e Alegres Trópicos -sentimos um forte falar por imagens, uma música que se desenrola como um filme; isto, sem contar as inúmeras citações, homenagens e referências ao cinema. Diálogo incomum e relevante que clama por uma análise mais atenta. Gilberto Mendes percorreu melodias, harmonias e imagens desde a infância; tornou-se compositor e jamais deixou de ser “cinemeiro” (como ele mesmo diz). Acredito que, dentro de sua obra, esteja presente não só um apaixonado por cinema, mas também um cineasta, in musica.

Da tragédia ao Tango: análise da construção e das relações intersemióticas em “O Último tango em Vila Parisi”, de Gilberto Mendes
Filipe da Silva Alberti
Fsa_oasis@yahoo.com.br

Este trabalho pretende expor analisar alguns aspectos da obra “O último tango em Vila Parisi”, do compositor Gilberto Mendes, análise esta que tratará tanto apontamentos estéticos, quanto os materiais utilizados pelo compositor: elementos de repetição que evocam processos minimalistas; a escolha do tango como gênero musical e, logo, os estilemas que traduzem o dito gênero dentro da obra. À parte as questões puramente musicais, serão analisados os elementos extra-musicais, como o contexto político e trágico que envolveu a situação da Vila Parisi e a relação desses fatores com a escolha

Aspectos do surrealismo na obra de Gilberto Mendes
Ana Paula Oliveira
anamusike@hotmail.com

O surrealismo começou na literatura em 1924 com o Manifesto Surrealista do poeta e escritor francês André Breton. No Manifesto, Breton propôs aos escritores e artistas que expressassem os seus pensamentos de maneira livre, irracional e espontânea, sem exercer nenhum tipo de controle sobre ele. No Brasil, a idéia do surrealismo não foi aceita, pois muitos artistas não concordavam com a política revolucionária e nem com o modo de vida e pensamento que eles adotaram. Mesmo com essa rejeição, podemos observar características surrealistas na arte e na poesia brasileira. Anne Le Baron em “Reflections of Surrealism in Postmodern Musics”, afirma que podemos encontrar as principais características do surrealismo, que são a colagem e o automatismo (encontrados de uma forma extensa nas artes plásticas e na literatura), na música. O termo surrealismo nunca foi utilizado para designar as obras de Gilberto Mendes, porém podemos identificar alguns aspectos surrealistas em sua obra. O propósito deste trabalho é estudar as possíveis manifestações do surrealismo na obra (teatro musical) de Gilberto Mendes, fazendo análise da estrutura do teatro musical, análise musical e, por fim, relacionar a linguagem musical com as características surrealistas. Esse estudo também é uma ponte para entendermos o que vem a ser a pós-modernidade na música, na qual a obra de Gilberto Mendes é considerada exemplar.

Palavras chave: Surrealismo / Gilberto Mendes / Teatro Musical / Análise musical e estrutural.

O momento nacionalista em duas canções de Gilberto Mendes
Simei Paes
simeipaes@click21.com.br

Sessão 3 Gilberto Freyre

A divulgação de músicas regionais pelo programa de TV Frutos da Terra e a caracterização de uma identidade.
Martha Antonia dos Santos Reis
martha_reis@hotmail.com

O presente trabalho consiste de considerações surgidas da observação do programa de TV, Frutos da Terra, que vem divulgando músicas regionais ao longo de 25 anos. Este é o objeto de estudo da pesquisa “Programa Frutos da Terra: um agente divulgador da música regional”. É um programa cultural, de cunho regionalista, composto quase que em sua totalidade por apresentações musicais. Vem sendo exibido pela Televisão Anhanguera, emissora afiliada à Rede Globo, uma vez por semana, sendo que cada exibição tem a duração de trinta minutos aproximadamente. Atualmente, sua apresentação ocorre aos sábados às onze e meia da manhã. Sua audiência abrange os Estados de Goiás e Tocantins, o Distrito Federal e algumas cidades do interior do Pará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Um dos propósitos desse estudo é explorar questões sobre a identidade cultural na pós-modernidade. Várias são as contribuições teórico-conceituais sobre identidade, entretanto, este estudo se embasa nas idéias de Hall, Bauman, Clanclini e Bahabha. Considera-se como sendo uma possibilidade a idéia de que o programa, por ser regional, conserva uma identidade cultural. Nesta perspectiva, discute-se, primeiramente, o conceito amplo de identidade na visão de Boff, para depois se ater na identidade cultural. A identidade cultural goiana é discutida e, para isso, é feito um breve apanhado da história de Goiás. Uma história cultural que se encontra intimamente relacionada com a idéia primeira de sertão e com o processo de ressemantização do significado desse termo. Frutos da Terra divulga músicas populares urbanas e sertanejas. A pesquisa encontra-se, nesta fase, centrada em busca de informações e reflexões sobre o gênero musical rural, a popular música sertaneja. O trabalho versa sobre as formas diversas desse gênero, caipira, sertaneja e country. Essas formas contribuíram intensamente com o processo de ressemantização do sertão e, conseqüentemente, com o estabelecimento de uma identidade cultural nas regiões interioranas do país. As formulações a respeito dos estilos caipira, sertanejo e country têm como base os estudos de Ulhôa e Pimentel. Até então, ficou constatado uma predileção por parte do programa pela forma sertaneja raiz. Com isso, percebe-se uma provável tentativa de transmissão de uma identidade, através do programa. Além da valoração da tradição de uma região.

Palavras-chave: Frutos da Terra, música rural, identidade cultural.

Deixa falar: Sambas e sambistas nos primórdios da música popular brasileira.

Carlos Eduardo Amaral de Paiva
du-paiva@hotmail.com

Este trabalho pretende uma análise sócio-histórica da escola de samba Deixa Falar, considerada a primeira escola de samba do Rio de Janeiro, fundada no ano de 1928, no bairro do Estácio, almejamos realizar um estudo da produção musical dos sambistas conhecidos como “pessoal do Estácio”. A pesquisa parte de um dado estético, a modificação rítmica do samba operada pelos sambistas do Estácio. A nova célula rítmica introduzida no samba por estes músicos acabará se tornando padrão para definição de uma originalidade no samba, marcando um processo de normatização do gênero musical. As mudanças ocorridas no samba a partir da década de 1930, não se referem apenas a padrões estéticos, elas evidenciam um novo padrão relacional na tríade obra-autor-público dentro da esfera musical. Partindo deste pressuposto busco uma problematização da comercialização de sambas, bem como do processo de profissionalização do artista negro na época, demonstrando a sua inserção precária no incipiente mercado musical. Por fim cabe uma análise do tema da malandragem entre os sambistas do Estácio. Acredito que a temática da malandragem pode ser interpretada paralelamente a inserção precária dos sambistas do morro no mercado musical, desta forma, o malandro presente nas músicas seria um ser na fronteira, entre o pólo da ordem (profissionalização) e da desordem.

Palavras Chaves: Samba – Deixa Falar – sambista do Estácio – profissionalização – malandragem.

Samba e Nação: Música Popular e Debate Intelectual na Década de 1940
Eduardo Vicente
eduvicente@usp.br

O presente texto se propõe, num primeiro momento, a refletir sobre modo o pelo qual o debate em torno da questão da cultura – que teve grande proeminência no cenário do pensamento social brasileiro nas décadas de 1930 e 1940 – desenvolveu-se dentro do campo específico da música popular. Com esse objetivo, são analisados os artigos sobre rádio e música popular p
roduzidos por intelectuais ligados ao regime Varguista para a Revista Cultura Política, que foi publicada pelo DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda – entre os anos de 1941 e 1945. Em contraposição a essa visão estatal da cultura, onde a influência da obra de Gilberto Freyre foi, sem dúvida, bastante significativa, são apresentadas diferentes discussões sobre a música do período ou, mais especificamente, sobre o samba, produzidas por autores contemporâneos. A análise dessas obras, especialmente dos trabalhos de Hermano Vianna, José Miguel Wisnik, José Ramos Tinhorão e Carlos Sandroni, permite-nos confrontar diferentes abordagens acerca desse processo de legitimação do samba, que saía então da marginalidade para assumir o papel de música símbolo da nossa nacionalidade. Uma das intenções do texto é a de demonstrar que não se deve ignorar o papel do “pensamento oficial” no processo que então se estabeleceu ou a significativa presença do Estado na produção simbólica desenvolvida no período (seja através da censura ou do incentivo à produção e veiculação de obras).

Palavras-Chave: música popular; samba; Estado Novo; Revista Cultura Política

Sessão :3 Gilberto Gil

“A gente ta aí, a gente não tem vergonha de nada, a gente é isso…” O doce bárbaro Gilberto Gil e os episódios de 1976.
Vicente Saul Moreira dos Santos
vsaul@uol.com.br

Por iniciativa de Maria Bethânia, foi criado o grupo “Doces Bárbaros” que reunia também os tropicalistas Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Em junho de 1976, ocorreu a estréia no Anhembi, em São Paulo, logo em seguida iniciaram turnê pelo sul do país. Nessa ocasião, o compositor e intérprete Gilberto Gil ganhou relevância especial devido a sua prisão em Florianópolis por porte de maconha. Suas declarações na época, a repercussão social, o julgamento e os efeitos sobre sua trajetória merecem destaque. O êxito do grupo foi mantido, alcançando, ainda, uma maior procura do público. Após esse episódio retornaram ao palco, se apresentando no Canecão, Rio de Janeiro, onde permaneceram por dois meses. Ainda em 1976, o LP “Doces Bárbaros” foi gravado ao vivo e lançado pela Philips. Outro importante registro da trajetória do grupo encontra-se no documentário homônimo dirigido por Jom Tob Azulay. As apresentações eram marcadas por forte conteúdo cênico, pelo diálogo com o tropicalismo e o repertório baseou-se entre a brasilidade e a baianidade, características marcantes desses artistas. Através da análise da cobertura jornalística, pode-se afirmar que os “Doces Bárbaros” dividiram as opiniões no período, entretanto, posteriormente seria considerado um marco importante da história da cultura e da Música Popular Brasileira (MPB) enquanto constructo histórico.

Palavras-chave: História da Música Brasileira – Gilberto Gil – Doces Bárbaros – História da Cultura Brasileira – História e Mídia

Raul Seixas, entre a legitimidade e ilegitimidade das artes musicais no Brasil.
Lucas Marcelo Tomaz de Souza
lucas_marilia@yahoo.com.br

Enquanto as elites intelectuais e artísticas brasileiras se fechavam em um ideal de Brasil que buscasse através da literatura, música, cinema e pintura as origens de uma brasilidade híbrida e original, protestando junto a um estado de subdesenvolvimento econômico brasileiro, a consolidação de um mercado de bens culturais possibilitava a ascensão de formas artísticas alheias ao projeto cultural das artes dominantes. O rock começa a configurar-se, dentro deste cenário, como ritmo de grande valor comercial e de pouca importância estética ou ideológica. Faremos, portanto, uma análise biográfica de um dos precursores do rock no Brasil (Raul Seixas) delineando sua relação individual e artística com as formas consagradas de arte (Bossa Nova, Tropicália, Canção de Protesto, Samba). Nascidas no ceio dos debates de uma elite intelectual universitária, consolidou para si um projeto político e artístico, semeado desde o modernismo até os anos setenta, configuravam uma imagem de importância única ao artista, que vinha sendo riscada com a difusão das artes de menor valor. Analisaremos a trajetória de Raul Seixas, desde seu início na Bahia dos anos sessenta -período em que a efervescência das elites baianas, dentro da Universidade Federal da Bahia, consolidava aquilo que posteriormente se chamaria Tropicalismo- até sua ida para o Rio de Janeiro, onde o desenvolvimento dos meios de comunicação e da mídia possibilitava a ascensão de formas diversas de artes, não legítimas até então, mas que, tempos depois, conseguiam se firmar, com ajuda desta mesma mídia, no interior do cenário musical nacional, como aconteceu com Raul Seixas.

Gilberto Gil e a diáspora africana
Nancy Alves
nancy_ap_alves@hotmail.com

Este trabalho tem por objetivo analisar a obra de Gilberto Gil e o seu caráter pan-africano, voltado para tribos e nações com um passado em comum que espalham e espelham aos quatro cantos do mundo uma herança cultural que se funda na vivência do trabalho escravo e nas sociedades escravocratas. Por meio de algumas canções – escritas em português ou em língua estrangeira – e, em perspectiva sócio-histórica, pretendemos analisar arranjos, instrumentação, células rítmicas e conteúdos temáticos, depreendendo deste contexto as múltiplas expectativas de uma sociedade interativa e globalizada, tão caros ao mundo contemporâneo.
Poderão fazer parte do corpus deste trabalho as seguintes canções: No woman no cry, Balafon, Oslodum ,La lune de Gorée, Mon tiers monde, Touche pas à mon pote, La renaissance africaine.

5 Gilberto Freyre

Vitória: da ilha à nuvem
Profª. Drª. Mónica Vermes
mvermes@uol.com.br
mvermes@gmail.com

A presente comunicação toma como ponto de partida um levantamento realizado no jornal A Gazeta (Vitória-ES) dos eventos musicais que ocorreram entre 2001 e 2005 na Grande Vitória. A partir da sistematização e análise desses dados, foi possível esboçar um mapa da atividade musical em Vitória no início do século XXI e identificar – nas iniciativas e no discurso da grande mídia – um permanente choque entre a necessidade de afirmação de uma identidade local forte e o balizamento dessa mesma identidade a partir da comparação entre Vitória e outras capitais brasileiras, tipicamente São Paulo e Rio de Janeiro. Tomando como referência duas imagens da cidade, a de ilha e a de “nuvem digital”, propomos uma reflexão sobre a idéia de identidade capixaba e sobre os vários híbridos que surgem a partir dos encontros entre a cidade e seus outros.

Palavras-chave: música capixaba, Vitória-ES, identidade, hibridação, cena musical

Discursos Identitários em Torno da Música Popular Brasileira
Michel Nicolau Netto
michelnicolau@gmail.com

A música brasileira foi marcada, durante quase todo século XX, por sua ligação com a identidade nacional, num momento em que nação correspondia a um Estado e a um Povo determinados, sendo que as relações entre estes três elementos e o resto do mundo se davam a partir da oposição interno/externo. Com o processo de globalização, esses três elementos têm suas ligações quebradas e a identidade nacional passa a ser forjada em um ambiente complexo, no qual o Estado continua atuando, mas agora em meio a outros atores globais que influem em tal forjamento. Assim, em um espaço global, a relação de forças que se apresenta na conformação dessa identidade é modificada. Do mesmo modo, os interesses que mobilizam a identidade nacional não mais são os mesmos, pois não se atêm à formação de um corpo simbólico homogêneo dentro de fronteiras, mas se voltam para a inserção (de produtos, pessoas, culturas, etc) além das fronteiras. O trabalho a que nos dedicamos tem como ponto de partida mostrar como foi o processo de
formação da música brasileira como símbolo identitário nacional, tendo como foco as décadas de 1910/20/30. É com este período que contrapomos o objeto principal do trabalho, qual seja, a ressignificação da identidade nacional a partir da inserção da música brasileira no espaço global. Para tanto, temos como corpo de análise os discursos feitos em torno desta música em referência a questões identitárias, discursos esses encontrados em mídia estrangeira, projetos de exportação de música, catálogo de música e encartes de discos. A partir desta pesquisa, podemos aclarar um cenário no qual a identidade nacional se encontra em uma situação de tensão com outras identidades, sendo que essas se tornam símbolos hierarquizados, articulados conforme interesses de mercado. Se, de um lado, vemos uma aura libertária das identidades – valorizadas nesse momento e, portanto, capazes de pressionarem a abertura de significado da idéia de identidade nacional – de outro vemos o mercado hierarquizando tais identidades, incluindo algumas, excluindo outras e dando valor a todas. Com isso, é bem verdade que vemos surgir possibilidades de identificações diversas na geração de sentido social, que vamos denominar, ao lado da identidade nacional, de identidades mundial e restritas. Contudo, também notamos que as forças para a adequação individual ou coletiva a essas diversas identidades são distribuídas desigualmente. Em um cenário capitalista num nível global – no caso da música dominado por uma indústria cultural complexa, formada por instâncias tecnológicas e fonográficas, e por ideologias bem fincadas, que buscam estabelecer uma aura de democratização cultural – a alguns indivíduos e grupos é exigida a fixidez identitária enquanto para outros é oferecida a múltipla identificação. Se hoje a mobilidade é fator positivo de diferenciação (uma exigência do processo de globalização) a desigualdade está dada. Ademais, como a legitimidade da mobilidade na globalização transpassa para as identidades, são aquelas com maior capacidade de se inserirem no espaço global e, portanto, se adaptarem aos padrões hegemônicos, que terão maior valor em um mercado mundial de símbolos. É isso o que vemos na música ao pesquisá-la a partir da questão da identidade. Os artistas que se inserem no mercado mundial devem lidar de um lado com a sua própria capacidade de se moverem entre identidades e de outro com o valor que sua identidade, condicionada pela indústria, possui. Possibilidades libertárias e opressoras estão lançadas em um mesmo tabuleiro. Contudo, as peças do jogo não têm a mesma força para todos.

“Eu canto pra falar do Amazonas”: Um estudo da produção de MPA em Manaus.
Mauro Augusto Dourado Menezes
mauro-dourado@hotmail.com
Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga

A música popular amazonense (MPA), produzida em Manaus desde meados da década de sessenta do século passado, é caracterizada pela presença em suas letras de temas característicos do cotidiano do homem amazonense, a natureza, a mestiçagem, a vida na cidade e outros motivos que inspiram músicos e compositores a produzirem. Uma característica peculiar desta música é o uso de múltiplas expressões e termos regionais, presentes tanto no meio urbano como no interior, entre os quais: “banzeiro”, “curumim”, “leseira”, e etc. Observa-se também que a MPA se apropria de temas associados às manifestações folclóricas locais e regionais. A fim de fixar aspectos característicos dessas práticas folclóricas, muitas vezes vivenciadas pelos próprios compositores e músicos, mas também na exaltação das festas folclóricas correspondentes ao mês de junho, como bois-bumbás, entre outras, com propósitos de conferir a tais composições uma suposta “autenticidade” cultural amazônica. O que nos sugere um diálogo com os ideais modernistas da década de trinta, sem deixar de reconhecer influências de movimentos musicais nacionais como a Bossa Nova e a Tropicália na MPA, que se ocuparam dentre outras coisas, com a problematização da identidade nacional do Brasil. Dessa forma, identificando a música popular como expressão de cultura popular e, que a relação entre a arte e a cultura pode assinalar a incorporação de processos sócio-culturais locais e regionais, a “MPA” seria uma manifestação cultural por meio da qual afirmam-se valores e se coloca em debate, em poesia e em música, a vivência do homem amazônico.

Palavras-chave: Cultura Popular, Música Popular, Amazonas, Manaus, Antropologia Urbana

Hibridismos do Mangue: Chico Science & Nação Zumbi
Herom Vargas
heromvargas@terra.com.br

Esta comunicação tem o objetivo de discutir o experimentalismo do grupo Chico Science & Nação Zumbi (CSNZ) fundado nos hibridismos entre os gêneros musicais regionais de Pernambuco (maracatu, coco, ciranda e embolada) e as formas contemporâneas do rock e do rap. Foram selecionadas algumas canções de seus dois primeiros discos (Da lama ao caos, de 1994, e Afrociberdelia, de 1996) e analisadas nos aspectos rítmicos e instrumentais, estrutura e temática das letras, usos da voz e do canto, para detectar as aproximações criativas entre os gêneros, sínteses entre tradição e modernidade

As identidades Gilberto e a identidade nacional
Paulo de Tarso Salles
ptsalles@usp.br

A oportuna e casual identidade nominal entre Gilberto Freyre (Recife, PE, 1900-1987), Gilberto Mendes (Santos, SP, 1922), João Gilberto (Juazeiro, BA, 1931) e Gilberto Gil (Salvador, BA, 1942), oferece um excelente meio de articular algumas questões em torno da Música, pensada como referência para a questão da identidade nacional. Não obstante, essa mesma identidade se integra a uma discussão ainda mais ampla, onde os conceitos de Modernismo e Pós-modernismo serão aplicados como construções teóricas que envolvem a produção cultural brasileira. Dentro dessas duas perspectivas será conduzido este ensaio, a partir de aspectos observáveis na produção desses quatro notáveis.

Sessão 6. João Gilberto

O Campo da MPB como “braço artístico” da Modernização Conservadora Brasileira
– ou alguns porquês da “Contradição sem Conflitos de João Gilberto” e seus pares
Daniela Ribas Ghezzi
daniribas77@yahoo.com.br

Este artigo relaciona a música popular urbana brasileira a um processo amplo de modernização da sociedade. A transformação da música popular a partir de 1958 (e o desenvolvimento daquilo que ficou conhecido como MPB) teria ocorrido através de mudanças moleculares e de processos de transformação-conservação, que guardariam semelhanças com a modernização conservadora brasileira. Tanto na MPB como nos processos sócio-políticos existiria uma estratégia em que a mudança não exclui a tradição. Desenvolverei a questão de como a Bossa Nova, ao transformar a música popular, teria veladamente reiterado a tradição, ainda que de forma inovadora e moderna. Em dez anos (correspondentes a um “ciclo de institucionalização”), tal desenvolvimento teria autonomizado um campo de produção simbólica, cuja noção de legitimidade se articularia à estrutura de sentimento do período. Através de uma “mediação criativa” das estruturas sociais, as mudanças moleculares do campo da MPB teriam problematizado as questões da identidade cultural, da modernização da tradição, da renovação da expressão musical, e do engajamento nas manifestações artísticas (presentes nessa estrutura de sentimentos), produzindo assim novos significados às transformações sociais em curso naquele momento no Brasil – perspectiva recuperada do materialismo cultural. Pela centralidade que ocupa na formação cultural brasileira, acredito que o campo da MPB, através da busca de autonomia artística e de legitimidade de seus agentes (responsáveis pela criatividade da mediação entre cultura e sociedade), tenha colocado em prática sua capacidade de art
icular as questões pertinentes à modernização da sociedade à sua própria modernização, pois estas questões eram candentes também para seu próprio desenvolvimento.

Palavras-chave: Bossa Nova; campo da MPB; mudanças moleculares na MPB; modernização conservadora; “mediação criativa”.

João Gilberto e a retomada do samba em via dupla
Liliana Harb Bollos
lilianabollos@uol.com.br

Este texto discute o repertório dos três primeiros discos do violonista e cantor João Gilberto e a sua capacidade de retomar o samba tradicional, de gerações passadas, imprimindo a sua marca, não só por causa da famosa batida, mas também pelos inventivos acordes com tensões harmônicas e as suas melodias sincopadas; inventando um diálogo entre a voz e o violão, transformando o violão em instrumento participante do processo criativo e não somente um “acompanhante” da voz, tão comum em gerações passadas. O ritmo do samba em João Gilberto se torna mais suave, fino, não é mais aquele ritmo marcante, sincopado, festivo, e a batida que ele imprimiu, desde a sua primeira gravação com Elizete Cardoso no LP Canção do amor demais (1958), foi decisiva para que muitos jovens se interessassem em tocar esse instrumento. Seus três primeiros discos, “Chega de Saudade” (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961), são emblemáticos por conter canções como “Chega de Saudade” (Jobim/Moraes) e “Desafinado” (Jobim/Mendonça) ao lado de sambas de compositores de gerações anteriores como “Rosa morena” (Dorival Caymmi), “Morena boca de ouro” (Ary Barroso), evidenciando aquele ditado que diz: “antes de fazer o novo devemos conhecer o velho”. Em suma, não é a composição que anuncia a bossa nova, mas o intérprete, o modo como a música é tocada.

Bossa Nova: de canção a trilha
Carmen Lucia José
cljose@uol.com.br
Elisabete Alfeld Rodrigues
ealfeld@uol.com.br

O movimento da cultura obedece a uma dinâmica que lhes é própria, quando códigos e linguagens realizam significativos deslocamentos midiáticos, que, ao serem relocados, originam novos textos e novas significações. Aproveitando-se das realizações cinematográficas e radiofônicas, a televisão já nasceu sabendo do valor da música e da canção como constituinte de suas produções culturais. Como no cinema, a narrativa televisual conta com a trilha para compor o nível semântico do texto. Como no rádio, a narrativa televisual conta com a trilha para compor a paisagem sonora do tempo e do espaço de seus enredos. No movimento de uma mídia para outra, a dinâmica de um texto cultural ressemantiza o texto cultural de origem, restrigindo-o e/ou complexificando-o esteticamente. No Brasil, a Bossa Nova, surgida na década de 50, foi um movimento definitivo para a canção popular. Depois disso, a dinâmica da cultura deslocou e relocou muitos dos textos musicais da Bossa Nova para outros contextos midiáticos; um deles foi o deslocamento e relocamento realizado pela televisão, mais especificamente, deslocado para o contexto da telenovela e relocado no áudio como trilha da telenovela. Como trilha, a canção pode ser tema de abertura, de personagens ou ainda fazer as passagens entre cenas. Deslocada de seu contexto original, a canção dialoga com os elementos característicos da dramaturgia do entretenimento; os fragmentos da canção na cena servem à imagem distanciando-a de suas marcas estéticas. No caso da Bossa Nova, cujo paradigma composicional era “o amor, o sorriso e a flor”, quando relocada no contexto da telenovela, cria um contraponto em relação às tramas e subtramas presentes nos enredos. Este recurso traz para a cena da novela a notoriedade de um gênero musical, porque já afirmado anteriormente pela audiência, quando da escuta no contexto original; no entanto, a notoriedade não é reconhecida pela escuta massiva e a canção é apenas trilha.

Palavras-chave: bossa nova; canção; trilha; telenovela.

De “João Gilberto de saias” a “diva predestinada”: Versões sobre Rosa Passos
Ricardo Santhiago
rsanthiago@usp.br

Esta comunicação tem como ponto de partida duas entrevistas de história oral de vida, concedidas pela cantora e compositora baiana Rosa Passos. Em torno delas, e com o auxílio de sua discografia e de um conjunto de matérias de imprensa a seu respeito, são discutidas as motivações e os processos que se encadeiam em torno da elaboração de uma imagem pública que supere o estigma de “João Gilberto de saias” e o substitua pela imagem da “diva predestinada”. Particularmente após o lançamento do CD Rosa, de 2005, e de sua consagração internacional, as estratégias de trabalho e divulgação de Rosa Passos indiciam a flexibilização de seu vínculo com o paradigma bossanovista e a adesão a posturas que confrontam e problematizam os conceitos de originalidade e cópia; herança e influência; trabalho e missão, subjacentes à sua rotulação como “versão feminina de João Gilberto”.

Palavras-chave: História oral; História de vida; Música popular brasileira; Bossa Nova; Rosa Passos

Sessões especiais:

João Gilberto, o projeto utópico e a melancolia da bossa nova
(Ou: um baiano de Juazeiro na zona sul carioca, entre “chega de saudade” e “por que tudo é tão triste?”)
Walter Garcia
wgarciasjr@uol.com.br
Duas idéias bastante repetidas nos últimos anos (e sobretudo nas comemorações dos 50 anos da bossa) serão inicialmente analisadas: “Se o jazz é vontade de potência, a bossa nova é promessa de felicidade”, de Lorenzo Mammì; “o Brasil precisa chegar a merecer a bossa nova”, de Caetano Veloso. Pretende-se investigar o termo “promessa”, na primeira formulação, sublinhando-se sua distância em relação à bossa tal como é veiculada no atual espetáculo midiático. E será pensada em chave crítica a distinção entre “fazer projetos para o futuro e sonhar”, na qual a segunda idéia se assenta. A discussão tem por objetivo último identificar, na forma artística joãogilbertiana, a presença estrutural de utopia e melancolia. Pesquisando-se as bases histórico-culturais dessa “contradição sem conflitos”, pretende-se melhor esclarecer tanto seu impacto inicial quanto sua vigência e seus desdobramentos.
Gilberto Freye e a música em Sobrados e Mocambos

José Geraldo Vinci de Moraes
zgeraldo@usp.br

A música não tem aspecto central na vasta e variada obra de Gilberto Freyre sobre a história da formação e decadência da sociedade patriarcal no Brasil. Porém, ao mesmo tempo ela se apresenta de maneira evidente e como elemento formador permanente da sociedade brasileira. Sua obra não é de modo algum surda em relação aos mais variados sons e músicas e às redes sociabilidades que se apresentaram em torno delas no cotidiano brasileiro, desde a colonização até o início do século XX. Apesar disso, os historiadores raramente chamaram atenção a essa questão e emudeceram completamente durante muito tempo sobre o tema. Na realidade a historiografia marginalizou sua obra de maneira geral desde pelo menos a década de 1960. Neste período ela sofreu vigorosa critica dos historiadores, influenciada fundamentalmente pela “sociologia paulista”, que seguiu nas décadas subseqüentes fazendo-a desaparecer das referências dos estudos históricos. Foi somente entre o final da década de 1980 e início de 1990, seguindo o ritmo internacional das mudanças historiográficas, que ela passou por criativa releitura dos historiadores. Nela eles encontraram de maneira precursora “novos problemas, objetos e abordagens”, a desejada ampliação do documento histórico e da critica documental, caminhos metodológicos alternativos e temas renovados. Neste novo enquadramento, a música pôde se revelar ao historiador tanto um novo objeto ou tema historiográfico, como fonte histórica para acessar aspectos do passa
do. Por isso, reler sua obra, como Sobrados e Mocambos, com os ouvidos atentos tornou-se tarefa importante – embora ainda em ritmo rallentando – para ampliação historiográfica de modo geral e da música de modo especial.

Possibilidades de leituras da obra de Gilberto Mendes: A versão para 2 violões da Peça nº. 4 para piano
Edelton Gloeden
adeliaedelton@uol.com.br
Luciano Morais
Lucianocesar78@yahoo.com.br

Este artigo procura mostrar alguns dos processos utilizados na realização da versão para dois violões da Peça nº. 4 de Gilberto Mendes (1922) originalmente escrita para piano solo. Esta versão, juntamente com a Peça nº. 10 foi feita na década de 1990 e reapresentada no 4º Encontro de Música e Mídia O Brasil dos Gilbertos.

A técnica composicional de Gilberto Mendes
Beatriz Alessio
yagarel@hotmail.com

A presente comunicação aborda os sete estudos para piano de Gilberto Mendes, utilizando a análise voltada para questões interpretativas. Juntamente com a execução de três desses estudos, incluímos alguns exemplos da técnica em que se baseia a linguagem deste que é considerado um dos maiores compositores brasileiros da atualidade. Analisando essas obras segundo esses critérios, procuramos elaborar um trabalho que possa servir de incentivo a posteriores pesquisas sobre Mendes e o repertório brasileiro contemporâneo para piano. Comentaremos também a edição que fizemos dos quatro estudos que permaneciam inéditos.

Palavras-Chave: estudos para piano; Gilberto Mendes; música contemporânea brasileira; análise; pós-modernismo musical.

Gilberto e Willy: ética e estética
Paulo Chagas
paulo.chagas@ucr.edu

Os compositores Gilberto Mendes e Willy Correa de Oliveira representam dois ícones da música erudita brasileira contemporânea. Ambos foram fundadores do movimento Música Nova, em 1961 e, desde então, exerceram influência significativa em gerações posteriores de compositores e intérpretes. Este artigo examina alguns aspectos das trajetórias musicais de Gilberto Mendes e Willy Corrêa de Oliveira a partir, sobretudo, da minha experiência pessoal. A investigação privilegia a dialética de proximidade e distanciamento, que caracteriza a relação entre esses dois compositores, a fim de ressaltar questões éticas e estéticas.

Mutationem III de Claudio Santoro: uma tradução do analógico para o digital a partir da escrita

Prof. Dr. Anselmo Guerra de Almeida
guerra.anselmo@gmail.com

Cláudio Santoro compôs uma série de obras intituladas MUTATIONEN, das quais selecionamos a numero III, para piano e fita magnética. A partitura criada pelo autor compreende instruções minunciosas da própria montagem da fita, a partir de parâmetros fixados graficamente na partitura e através de instruções por texto. Nosso objetivo é realizar uma releitura da obra, descobrindo os objetos sonoros concebidos numa época e ambiente de artefatos analógicos, reproduzindo-os com as atuais ferramentas tecnológicas. Assim, MUTATIONEN III foi recriada a partir das instruções do autor traduzindo-as para os atuais procedimentos de gravação, edição e processamento digital.

Palavras-Chave: composição musical, música eletroacústica, música brasileira contemporânea.

José Miguel Wisnik
Considerações sobre 4 Gilbertos: uma proposta aparentemente despropositada

Rodolfo Coelho de Souza
A “profecia” de Gilberto Mendes sobre o fim da música erudita

Jerusa Pires Ferreira
A viagem de Ulisses

Sessão 7: Musimid: Trabalhos em andamento.
Heloísa de A. Duarte Valente
musimid@gmail.com
www.musimid.mus.br

Esta sessão apresentará os trabalhos concluídos, até o momento: o vídeo-documentário, o livro e o documentário em áudio.

Vídeo- documentário: Canção d’Além-Mar: O fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas

Este documentário apresenta, nos seus sessenta minutos, a presença do fado, na cidade de Santos. Além de uma das mais antigas cidades do Brasil, Santos conta com expressivo número de imigrantes portugueses: trata-se da primeira cidade, em números relativos e a segunda, em números absolutos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2002. Graças a essa marcante representação lusitana, a cidade foi palco, durante várias décadas, de um importante número de programas radiofônicos, além de ter acolhido artistas de grande prestígio, especialmente fadistas. Dentre os atores culturais, destacam-se Manoel Ramos e Lídia Miguez: radialistas e fadistas têm toda a trajetória da música portuguesa em sua voz e em sua memória: Em atividade há mais de seis décadas, com o programa Presença Portuguesa, o casal tem sido responsável, ao longo de sua carreira, por várias iniciativas, no sentido de divulgar e preservar a música portuguesa e, sobretudo: quando o fado se acreditava esmorecido, antes do surgimento do chamado Fado Novo, criaram o movimento Amigos do Fado, durante a década de 1990. Importante observar também que o casal vem formando seguidores, tanto no ofício de radialista, quanto de fadista. O documentário Canção d’Além-Mar mostra como o fado está presente na cidade de Santos, através de depoimentos de seus protagonistas, dos fadistas e pessoas ligadas ao fado.

Documentário radiofônico: Canção d’Além-Mar: O fado na cidade de Santos, pela voz de Manoel Ramos e Lídia Miguez

Compilação das entrevistas do casal, em formato documentário, a ser apresentado no rádio. Além da riqueza dos depoimentos em si, o formato atende, ainda às necessidades das pessoas com dificuldades de leitura. Trabalho realizado por Marta Fonterrada.

Livro: Canção d’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos

O livro tem como tema a presença do fado, na cidade de Santos. Além de uma das mais antigas cidades do Brasil, Santos conta com expressivo número de imigrantes portugueses: trata-se da primeira cidade, em números relativos e a segunda, em números absolutos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2002. Graças a essa marcante representação lusitana, a cidade foi palco, durante várias décadas, de um considerável número de programas radiofônicos, além de ter acolhido artistas de grande prestígio, especialmente fadistas. Para ilustrar a presença do fado, na cidade de Santos, são apresentados, assim, textos referentes à vida musical na cidade, à imigração portuguesa, ao longo do século XX. No que tange ao fado, propriamente dito, a mais conhecida canção de Lisboa é abordada como gênero musical em transformação ao longo de toda sua história. Encontra-se, no volume, ainda, uma entrevista concedida por Manoel Ramos e Lídia Miguez, radialistas e fadistas de extrema relevância para a presença do fado na cidade. No apêndice, alguns comentários esboçados pelos participantes do documentário Canção d’Além-Mar: o fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas.

Sessões musicais:

17 de setembro:
Edelton Gloeden e Luciano César Morais
Audição e comentários de três obras de Gilberto Mendes:
Peças para piano ns. 4 e 10
Prelúdio e Casi Passacaglia

Simei Paes e Cecília Adamovich
Lagoa
Peixes de prata
Beatriz Alessio

Estudo sobre “O Pente de Istambul” (Gilberto Mendes)
Estudo de Síntese (Gilberto Mendes)
Estudo Magno (Gilberto Mendes)

18 de setembro

Antonio Eduardo
Bossa 50 Nova

19 de setembro

Cibele Palopoli (flauta)
Giovanni Matarazzo(violão)

João Gilberto:
Ho Ba La La
Bim Bom

Gilberto Gil:
A Paz
Drão
Se eu quiser

Gilberto Mendes:
Sinuosamente: Veredas

Grupo Sete Cidades: Fados
Alexandre
Matis, Gabriel Henrique Laudino, Marcos Santos, Tatiana Monteiro

Acordem as guitarras (Frederico de Brito)
Alfama (José Carlos Ary dos Santos/ Alain Oulman)
Meu amor é marinheiro (Manuel Alegre e Alain Oulman)
Barco Fantasma (Ivan Lins e Vítor Martins)
Lar d’Além-Mar (Gil Nuno Vaz e José Vaz Pereira da Silva)
Sonho de emigrante (Manoel Ramos e Lídia Miguez)
Tudo isto é fado (Aníbal Nazaré/ Fernando Carvalho)

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