8º Encontro Internacional de Música e Mídia:
"Tão longe... Tão perto... A música migrante"
Anais eletrônicos
ISBN 978-85-62959-24-0
Apresentação geral
Sabe-se que a globalização tão comentada hoje não é nenhuma novidade. Sempre existiu, segundo relatam inúmeros estudiosos. Ganhou grande intensidade por ocasião das Cruzadas e aumentou vertiginosamente nas últimas décadas do século XX.
Pessoas migram por razões as mais diversas da curiosidade em conhecer novos horizontes, ao turismo; do exílio político à busca pela sobrevivência. Enquanto uns circulam em períodos curtos ou mesmo de longa duração, (viajantes, turistas), outros criarão raízes em novos territórios, seja pela crença em encontrar um mundo melhor ou possível, tal como ocorre com os perseguidos políticos, espiões e até criminosos. Muitos partem com a intenção de retornar ao seu local de origem, tão logo as condições de vida o permitam, enquanto outros sabem que o passo à frente é um aceno de despedida da vida que ficou para trás. Munidos de passaportes regulares ou clandestinamente, fluxos de lembranças e repertórios passeiam, ocultando-se no silêncio de seus portadores, ou se transmitindo pelas diversas mídias possíveis – a começar pela própria voz falante e cantante.
Entre aventureiros, açoitados pelas guerras e hecatombes e degredados de toda natureza, na bagagem daqueles que partem, residem memórias doces, triviais ou até nefastas; lembranças fortuitas e, não raro, músicas, sobretudo canções. Ao chegar ao seu novo destino, espera-se que esse repertório de músicas e canções, juntamente com outros elementos que imprimem a cultura de origem atue como elemento de identificação daquele que chega com o seu novo lar. Em comunidades, grandes ou pequenas, praticam-se rituais diversos (religiosos, festivos etc.). Quase sempre, a música lá está presente.
Ao partir, que traços memoriais deixam as pessoas que correm em busca de novos mundos? Que novas músicas ficarão em seu repertório memorial, de modo a estabelecer vínculos de afeto e identidade? Ao se reterritorializar, que contribuição trará para o local em que estabeleceu novas raízes? Que intercâmbios as músicas trazidas pelo imigrante/emigrante farão com a realidade localmente estabelecida? Que adaptações serão feitas? Como a formação de guetos pode representar, efetivamente, o enraizamento com a cultura de origem, colocando em cheque a possibilidade de adaptações ao novo lar? Em que casos a cultura (musical) trazida de fora será aceita sem resistências? Como se administram os conflitos? As tramas da memória e a música como suporte de comunicação intercultural.
O tema geral do 8º Encontro Internacional de Música e Mídia tem, como tema principal, averiguar as tramas sígnicas que se estabelecem na circulação da música migrante, de toda a sua natureza e suas repercussões junto às culturas em que se aloja: da diáspora à desterritorialização voluntária.
Eixos temáticos
Das comunidades aos guetos
A música como elemento de vínculo e identidade entre os e/i/migrantes, mas também como marca da exclusão: do estabelecimento de associações culturais estrangeiras e expressões musicais correspondentes (ranchos folclóricos, ranchos carnavalescos etc.) ao grito violento dos segregados (manifestações de uma herança ancestral renegada) e confinados (presidiários, de toda a espécie).
A reterritorialização e resistência da memória
O processo de nomadismo e a criação de novas formas de vida, conciliação e criação de uma nova realidade, resultante do diálogo e dialogismo entre culturas. Movência, mestiçagem cultura; ampliação de fronteiras no repertório cultural e musical. Processos de esquecimento e rememoração participantes no processo.
A cultura midiática e a world music
O pressuposto de que a circulação de pessoas e culturas promove trocas, intercâmbios e influências estabelece várias iniciativas, por parte da megaindústria do entretenimento, tendo como bases nos seus pressupostos ideológicos: 1) a mídia possibilita o registro da pureza, garantindo a sua manutenção; 2) o hibridismo entre as culturas promove um caldeirão cultural, permitindo a criação de novas linguagens; 3) a música como suporte para os fluxos culturais e o contrafluxo criado pela apropriação midiática.
Novos mundos, novos signos musicais
Guerra e exílio e suas repercussões na criação artística, motivados pela circulação dos seus protagonistas. O caso das vanguardas europeias: Neue Musik, jazz e música para o cinema. A suposta universalidade das linguagens artísticas e seu desenvolvimento extra-muros (simbólicos, territoriais).
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