PROJETOS

MÚSICA E MÍDIA - NOVAS ABORDAGENS SOBRE A CANÇÃO

Contemplado com financiamentos do CNPq (Edital Universal) e da FAPESP (Jovem Pesquisador), uma significativa parte do Grupo vem se dedicando ao projeto “A canção das mídias: memória e nomadismo” e “Trago o fado nos sentidos: Memória e significado nos trajetos de uma canção nômade”, ambos com a colaboração de especialistas de renome internacional. No ano de 2008, alguns resultados do projeto levados à comunidade científica foram o lançamento do livro “Canção d’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos” (Editora Realejo/ CNPq) e do documentário “Canção d’Além-Mar: o fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas” (CNPq / FAPESP). Em 2009, também foi lançado o hipertexto “Canção d’Além-Mar: o fado na cidade de Santos: sua gente, seus lugares” (FAPESP / Realejo Livros). Desde julho de 2009, o MusiMid está envolvido em um novo projeto, financiado pelo CNPq (Edital MCT/CNPq 02/2, Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas) intitulado “’Trago o fado nos sentidos’: Memória e significado nos trajetos de uma canção nômade”.

TRAGO O FADO NOS SENTIDOS: MEMÓRIA E SIGNIFICADO NOS TRAJETOS DE UMA CANÇÃO NÔMADE

Este projeto dá continuidade às pesquisas que vêm sendo realizadas sobre o fado. A nova etapa pretende abordar aspectos particulares, através de subprojetos conduzidos por participantes do MusiMid. Partimos da premissa de que a “canção das mídias” é elemento fundamental na cultura: entendida como processo comunicacional, aqui adotada pela linguagem musical. Em seu processo de transformação contínua, ou “nomadismo” (Zumthor), de modo a manter-se na paisagem sonora (Schafer), a canção expressa, informa, corrobora, apresenta traços da cultura da qual faz referência e à qual se vincula.

O fado, na mídia (disco e rádio, prioritariamente) revela-se como elemento privilegiado de análise, que pode responder a questões de natureza diversa, em suas interfaces. Tendo como base inicial o repertório discográfico difundido em programas de rádio selecionados, pretende-se analisar aspectos tais como: 1) as relações entre audiência e memória, a partir do repertório executado nos programas radiofônicos; 2) o impacto da permanência de fadistas portugueses no Brasil e a incorporação/criação de um fado “brasileiro” pelos portugueses; 3) o fado como elemento constituinte das histórias de vida e do cotidiano do português emigrado no Brasil e nos luso-descendentes.

Considerando-se uma investigação em colaboração internacional com pesquisadores do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança – INET, propõe-se como resultados, dentre outros: 1) a de criação de banco de dados contendo a discografia mais representativa do fado, no Brasil, de modo a permitir uma análise comparativa com a portuguesa; 2) a promoção de um encontro científico, cujos resultados finais serão publicados em livro.

Participantes envolvidos: Heloísa de A. Duarte Valente, Marta Fonterrada, Ricardo Santhiago. Convidados: Marita Fornaro, Susana Sardo, Rosário Pestana, Jorge Ribeiro.

O projeto é um desdobramento de Canção d’Além-Mar, incluindo pesquisadores da Universidade de Aveiro (Susana Sardo, Rosário Pestana e Jorge Ribeiro) e outros convidados.

UNA MUSICA DOLCE SUONAVA…: MEMÓRIA E NOMADISMO NA CANÇÃO ÍTALO-PAULISTANA

Este projeto pretende abordar um novo grupo de canções, através de subprojetos conduzidos, igualmente, por participantes do MusiMid. Trata-se de um grupo de canções, de origem italiana e sua presença e suas repercussões junto à comunidade de imigrantes italianos, ítalo-descendentes, na capital paulista. Reitere-se, aqui, o ponto de partida: o conceito de “canção das mídias” como elemento ativo e de forte presença na cultura. Em sua transformação contínua, ou “nomadismo”, a canção expressa, informa, corrobora, apresenta traços da cultura da qual faz referência e à qual se vincula. Tendo como base inicial o repertório discográfico difundido em programas de rádio selecionados, além de depoimentos de pessoas, pretende-se analisar aspectos tais como:

1) as relações entre audiência e memória, a partir do repertório executado nos programas radiofônicos;

2) o impacto da permanência de artistas divulgadores da canção de origem italiana e o surgimento de vertentes ítalo-brasileiras, nas mídias locais;

3) as canções tradicionais, de origem italiana, como elemento constituinte das histórias de vida e do cotidiano do italiano imigrante no Brasil, sobretudo na cidade de São Paulo;

4) que repertório da música italiana foi incorporado à paisagem sonora paulistana, paulista e em outras regiões, por intermédio do rádio e, posteriormente, da televisão?

Resultados: propõem-se, dentre outros possíveis:

1) um livro, contendo, em seus capítulos, textos dos pesquisadores envolvidos com a pesquisa;

2) um video-documentário, contendo depoimentos de memorialistas, artistas, produtores musicais, radialistas, críticos musicais e outras pessoas, recriando a paisagem sonora paulistana, desde a década de 1930.

Participantes: Heloísa de A. Duarte Valente, Marta de O. Fonterrada, Ricardo Santhiago.

DOCUMENTÁRIO
O sole mio! Memória da canção ítalo-brasileira na “terra da garoa” 

Heloísa de A. Duarte Valente e Pedro Miguez (direção)

Roteiro, entrevistas, sonoplastia: Marta Fonterrada, Mônica R. F. Nunes, Heloísa Valente

A CANÇÃO ROMÂNTICA ITALIANA: PAISAGEM SONORA, CONSUMO CULTURAL E IMAGINÁRIO DO BRASIL NOS “ANOS DE CHUMBO”

É notória a contribuição da cultura italiana no Brasil, na cidade de São Paulo, sobretudo no início do século XX e após a II Guerra Mundial, período em que se estabelece e projeta internacionalmente o Festival de San Remo. Este projeto de pesquisa inventaria e analisa a música proveniente da Itália, que obteve sucesso expressivo no período compreendido entre 1960-1975, justamente a época em que a canção internacional, sobretudo italiana, domina as paradas de sucesso e de vendagem (Morelli, 2009). Para tanto, irá considerar como fontes de investigação, além de bibliografia, o repertório discográfico executado nos programas de rádio e televisão disponíveis e depoimentos. Dada a relevância e completude, elegemos catalogar e inventariar o acervo pessoal – sobretudo discográfico e audiovisual -pertencentes ao cantor, radialista e produtor Filippo d’Anello (Dick Danello). O projeto consiste em 3 subprojetos e pesquisa partirá de uma lista dos sucessos mais executados e solicitados pelos ouvintes do programa “Parlando d’amore” (1974-…), produzido e apresentado por Danello para proceder à catalogação e análise das canções. Para tanto, a referência teórico-metodológica baseia-se nos critérios de análise propostos pelo musicólogo Christian Marcadet (2007).

Participantes: Heloísa de A. Duarte Valente, Leonardo Corrêa Bonfim, Raphael F. Lopes Farias, Yuri Behr. Convidados: Adelcio Camilo Machado, André Rezende, Edson Pfützenreuter, Denise Durante, Rodrigo Vicente.

A canção romântica no Brasil dos “anos de chumbo”: Paisagens sonoras e imaginário na cultura midiática. Organizadora: Heloísa de A. Duarte Valente. São Paulo: Letra e Voz, ISBN 2018 978-85-93467-13-4

UMA VEREDA TROPICAL: A SUAVE E MORNA BATIDA DO BOLERO MEMÓRIA E NOMADISMO DA CANÇÃO HISPÂNICA NO BRASIL

Esta nova investigação pretende retomar um projeto iniciado há uns anos e diz respeito à canção hispânica que teve larga presença nas décadas de 1940 a 1960. Mais particularmente, trataremos do bolero, um gênero-canção que chegou ao Brasil por intermédio do México: sua presença e suas repercussões junto à cultura brasileira. Reitere-se, aqui, o ponto de partida: o conceito de canção das mídias (Valente, 2003) como elemento ativo e de forte presença na cultura. Em sua transformação contínua, ou nomadismo, no dizer de Paul Zumthor (1997), a canção expressa, informa, corrobora, apresenta traços da cultura da qual faz referência e à qual se vincula. Tendo como base inicial o repertório discográfico difundido em programas de rádio, além de depoimentos de pessoas, pretende-se analisar, através de subprojetos conduzidos, igualmente, por participantes do MusiMid e convidados, aspectos tais como: 1) as relações entre audiência e memória, a partir do repertório executado nos programas radiofônicos; 2) o impacto da permanência de artistas divulgadores da canção de origem estrangeira (sobretudo hispânica) e o surgimento de vertentes abrasileiradas, nas mídias locais; 3) as canções presente nas mídias como elemento constituinte das histórias de vida e do cotidiano do cidadão comum, no Brasil, sobretudo nas capitais metropolitanas; 4) peças de repertório incorporadas à paisagem sonora brasileira, por intermédio do rádio e, posteriormente, da televisão.

Participantes: Heloísa de A. Duarte Valente, Raphael F. Lopes Farias, Rafaela R. González, Marcelo Abud, Juliana Coli, Aparecido Donizeti Rodrigues, Saulo Alves, Simone Luci Pereira. Convidados: Adelcio Camilo Machado, Evandro Higa, Gabriela Marinho, Isabel Porto Nogueira, Luis Omar Montoya Arias.

UMA VEREDA TROPICAL: A PRESENÇA DA CANÇÃO HISPÂNICA, NO BRASIL

O livro é resultado do projeto de pesquisa de membros do MusiMid (dissertações de Mestrado) e contou com importantes contribuições de pesquisadores convidados, que participaram como debatedores e palestrantes do 10º Encontro Internacional de Música e Mídia (2014). Inclui textos de Heloísa de A. Duarte Valente, Rafaela R. González, Raphael F. Lopes Farias, Adelcio Camilo Machado. Convidados: Angel Quintero Rivera, Luis Omar Montoya Arias, Evandro Higa, Isabel Nogueira, Jamile Ayres, Guilherme Maia e Maria Gabriela Marinho.

SOUS LE CIEL DE PARIS : A CANÇÃO FRANCESA, NO BRASIL.

Este projeto de pesquisa dá continuidade a “A canção das mídias: memória e nomadismo”, que venho realizando, desde 2004, com a colaboração dos pesquisadores do Centro de Estudos em Música e Mídia – MusiMid e convidados.

Concluídas as quatro primeiras etapas, esta nova investigação lança mão de pesquisas preliminares iniciadas há uns anos e diz respeito à canção francesa. Ainda que não tão expressiva em vendagem, tal como ocorreu com o repertório de outras nacionalidades (portuguesa, italiana, latino-americana), esta canção teve importantes repercussões na cultura brasileira, como já atestam os trabalhos de Valente (2003), de Zumthor (1997; 2005) considerados aqui de caráter inicial. Assim, tal temática.

Ainda não foi alvo de estudos acadêmicos mais consistentes, nos termos aqui propostos. Mais particularmente, este estudo se dedica àquilo que se usou denominar por “canção romântica”. Delimitamos a investigação ao período que compreende o final da década de 1930 até o término da década de 1970, época em que a canção internacional de matriz europeia perde destaque, dando lugar aos gêneros rock e pop de língua inglesa, bem como aos repertórios regionais que surgem fora do eixo Rio-São Paulo.

Partimos dos conceitos de “canção das mídias” (Valente, 2003) e “nomadismo” (Zumthor, 1997), para analisar como a canção expressa, informa, corrobora, apresenta traços da cultura da qual faz referência e à qual se vincula.

Financiamento: FAPESP (auxílio à pesquisa/ regular

Resultados do projeto:

Sous le ciel de Paris :  A presença da canção francesa no Brasil.

Heloísa de A. Duarte Valente; Raphael F. Lopes Farias (orgs.)

(Organizadores)

Apresentações de Bernadette Lyra e Didier Francfort.

Autores: Heloísa de A. Duarte Valente, Fedro Leal Fragoso, Fernando Pedro de Moraes, Lina Maria Ribeiro de Noronha, Luíza Beatriz A. M. Alvim, Márcia Carvalho, Marcos Julio Sergl, Marta de O. Fonterrada, Nancy Alves, Raphael F. Lopes Farias, Ricardo Santhiago, Roberto Bispo dos Santos, Vanessa Ferreira de Oliveira, Yuri Behr

https://seloppgcomufmg.com.br/publicacao/sous-le-ciel-de-paris/

A CANÇÃO DAS MÍDIAS: MEMÓRIA E NOMADISMO Dividido em três módulos, este projeto, que recebeu apoio financeiro do CNPQ (Edital Universal) e FAPESP (Jovem Pesquisador), o projeto divide-se em três partes:

DONDE ESTÁS, CORAZÓN? O TANGO NO BRASIL; O TANGO DO BRASIL

Ao se falar em tango brasileiro, a figura de Ernesto Nazareth é prontamente lembrada e associada a um gênero instrumental. O tango é, na verdade, um gênero musical dotado de grande movência, permitindo-se transfigurar, expandir-se em suas formas nômades.

No Brasil, o tango portenho chega por volta da década de 1920. Os ouvidos se abrem para o tango cantado e, sobretudo, para a voz de Carlos Gardel. O tango argentino passa a ser traduzido, adaptado, parodiado em nosso país, transplantando-se como tango nômade. De fato, é curioso observar que, no processo de territorialização, o tango foi assimilado de diversas formas e teve enorme repercussão: quer como tango argentino em versão original, quer traduzido para o português. Além das versões originais e adaptadas, alguns compositores chegaram a compor vários “tangos argentinos” (nômades) que se notabilizaram na voz de Nelson Gonçalves: “Carlos Gardel”; “Hoje quem paga sou eu”; “Vermelho 27″; “Estrelas na lama”.

Nesta parte do projeto serão estudadas as relações entre texto poético e texto musical e suas implicações semânticas, levando em consideração não apenas a relação letra-música, mas também as variações da performance. Ainda: uma análise de como a linguagem musical se caracteriza, quer na versão portenha, quer na versão nômade (brasileira): aspectos formais, instrumentação, andamento, dinâmica etc. Por se tratar de um gênero cuja letra passa por muitas traduções idiomáticas, serão também cotejadas as diversas adaptações (“La cumparsita”, “Pañuelito/Lencinho querido”, “Yuyo verde/ mato verde” etc.).

A publicação, em fase de edição pela Via Lettera/ CNPq, inclui texto inédito em português, de Ramón Pelinski, intitulado: “Tango: metáfora da globalização”, “Donde estás, corazón? O tango no Brasil; o tango do Brasil”, por Heloísa Valente, e outros textos de Susana Ventura, Ricardo Santhiago e Sérgio Estephan.

Pesquisadores envolvidos: Heloísa Valente, Leandro Quintério, Ricardo Santhiago, Susana Ventura. Convidados: Ramón Pelinski, Sérgio Estephan.

A publicação resultante inclui texto inédito em português, de Ramón Pelinski, intitulado: “Tango: metáfora da globalização”, “Donde estás, corazón? O tango no Brasil; o tango do Brasil”, por Heloísa Valente, e outros textos de Susana Ventura, Ricardo Santhiago e Sérgio Estephan.

Revista Pesquisa FapespCanções que são para sempre

 

Canção d’Além-Mar

1. Canção d’Além-Mar

Teve, como resultados finais, um livro escrito pelos participantes do MusiMid e convidados; um documentário e um hipertexto, contendo informações acerca do gênero musical lisboeta que encontrou raízes na cidade de Santos (São Paulo).

Embora o fado seja considerado o cartão postal sonoro lisboeta, o fado nasceu no Brasil, como dança, no século XVIII, para territorializar-se em Portugal, como canção, em finais do século XIX. Canção nômade, o fado se estabelece raízes no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, criando uma ponte imaginária que liga os portugueses ao seu país de origem.

É também o local em que artistas portugueses vêm gravar seus discos (o primeiro disco de Amália Rodrigues foi feito em 1945, no Rio de Janeiro). Contrariamente, no final do século XX, brasileiros imigram para Portugal e portugueses e luso-descendentes voltam ao seu país; mas não necessariamente em caráter definitivo.

Pode-se imaginar que o vaivém de pessoas implique em nomadismo no gênero musical. Contudo, isso permanece uma verdade estatística: o maior contingente populacional de estrangeiros na cidade de Santos é de origem portuguesa e a cidade de Santos é aquela que abriga, proporcionalmente, o maior número de imigrantes portugueses no país.

Um estudo enfocando a presença da música portuguesa na cidade e, em particular do fado, contribuiu para um conhecimento mais aprofundado sobre temas, como: De que forma se processa o mecanismo de movência (Zumthor), de maneira a sustentar a permanência desse gênero musical? Como se dão as relações entre recepção, gosto estético, hábitos de escuta? Por quais mediações/negociações os ouvintes atribuem sentidos às canções escutadas; os vínculos entre o imaginário da terra de origem, numa época onde as fronteiras são dissolvidas com a predominância de uma cultura global, sustentada pelas ‘majors’ e as grandes corporações.

Pesquisadores envolvidos: Heloísa Valente, Diósnio Machado Neto, Marcos Júlio Sergl, Mônica Rebecca F. Nunes, Luiz Henrique Portela Faria, Susana Ventura, Teresinha Prada, Simei Paes, Alexandre Matis, Gabriel Henrique Laudino, Marcos Santos. Convidados: Flávio Viegas Amoreira, Rodrigo Tavares, Eduardo Teixeira.

O projeto foi concluído em setembro de 2009 “Canção d’ Além Mar: O fado e a cidade de Santos” (livro)

“Canção d’Além-Mar: o fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas” (documentário)

Posto que a cidade de Santos é a que possui o maior percentual de imigrantes portugueses, o MusiMid entrevistou algumas das pessoas mais atuantes na área: radialistas, músicos, cantores, além dos agentes sociais que contribuíram e contribuem para a permanência desse gênero musical que não se circunscreve, necessariamente, a um vínculo com a população da cultura de onde se originou. Aqui, o fado é entendido como gênero musical que consolida o cartão postal sonoro mais marcante de Lisboa e, por associação, de Portugal, mas que é possível de ser assimilado por toda a comunidade portuguesa e brasileira, no contexto da paisagem sonora local.

Pesquisadores envolvidos: Heloísa Valente, Susana Ventura, Gil Nuno Vaz, Alexandre Matis, Gabriel Henrique, Marcos Santos, Simei Paes.